Onde está o Santo Condestável?
Onde está o retrato de frei Nuno de Santa Maria? Na Praça de São Pedro, foram esta manhã colocadas as cinco pinturas que retratam os novos santos que amanhã o Papa Bento XVI canoniza. Mas é um exercício difícil reconhecer o português. Só muito perto dos retratos se podem perceber as ruínas do Carmo, o sinal mais visível da pintura do frade carmelita que, antes, chefiara o exército português contra os castelhanos, na batalha de Aljubarrota. O rosto mal se distingue, apagado pelo fundo branco dado pelo hábito.
A confusão inicial é agravada porque um dos outros retratados – Bernardo Tolomei (1272-1348), fundador da congregação de Santa Maria do Monte Olivete – se assemelha a algumas das ilustrações que existem do santo português.
No retrato de Nuno Álvares Pereira, vêem-se, além das ruínas do Carmo, em Lisboa – o convento onde ele viveu os últimos anos da sua vida –, três pobres a quem o frade estende a mão. O gesto simboliza a dedicação aos mais desfavorecidos, uma das características que o tornou popular. Na outra mão, o antigo Condestável segura uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus ao colo, sinal da devoção carmelita. Por baixo, uma espada deitada remete para o passado que frei Nuno de Santa Maria deixara para trás.
O rosto mais destacado é o da nova santa Caterina Volpicelli (1839-1894), que fundou uma congregação vocacionada para o serviço dos mais pobres e dos jovens. Mas também o retrato de Geltrude Comensoli (1847-1926), fundadora da Congregação das Irmãs Sacramentinas de Bérgamo (Itália) é feito a corpo inteiro e o rosto mal se distingue.
Já os outros dois homens que amanhã serão canonizados – o padre Arcangelo Tardini (1846-1912), fundador da Congregação das Irmãs Operárias da Santa Casa de Nazaré, que apoia trabalhadores, e Bernardo Tolomei – aparecem a meio corpo.
Frei Nuno de Santa Maria torna-se amanhã o oitavo santo português desde a fundação da nacionalidade. A última portuguesa a ser proclamada santa foi Beatriz da Silva, que viveu entre cerca de 1426 e 1492, tendo fundado a congregação da Imaculada Conceição. A lista dos restantes portugueses canonizados pela Igreja Católica inclui São Teotónio, Santo António, a Rainha Santa Isabel, João de Deus, Gonçalo Garcia e João de Brito.
Santo António protagonizou a mais rápida canonização da história – menos de um ano após a sua morte, pois nessa época a Igreja não exigia o reconhecimento de curas milagrosas. Gonçalo Garcia nunca viveu em Portugal: era filho de um português e de uma indiana, tendo nascido na Índia em 1557 e morrido mártir em Nagasaqui (Japão), como frade franciscano em 1593.
António Marujo
Público, 25.04.2009
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