domingo, 26 de abril de 2009

Correio da Manhã Sete mil imagens vendidas

Canonização: Negócio à volta do novo santo já rendeu um milhão
Sete mil imagens vendidas


À conta da canonização de D. Nuno Álvares Pereira, marcada para as 10h00 de domingo em Roma, já foram vendidas em Portugal, e só nos últimos dois meses, mais de sete mil imagens do Santo Condestável.
"Sempre se vendeu bem, sobretudo para grupos de escuteiros e movimentos específicos, mas desde que foi anunciada a data da canonização, ou seja, nos últimos dois meses, as vendas e as encomendas subiram muito", disse ao Correio da Manhã Luís Filipe Fonseca, administrador da casa de arte sacra bracarense J. Vieira da Fonseca.
Mas a esmagadora maioria das imagens tem sido vendida em Lisboa e em Fátima, com as encomendas a chegar às casas de arte sacra de todo o País.
Fonte da associação dos comerciantes de arte sacra assegurou ao CM que entre vendas e encomendas, nos últimos dois meses, foram comercializadas no nosso país mais de sete mil imagens do décimo santo português.
Os preços variam muito consoante o tamanho e o material de que são feitas. Uma imagem de 20 centímetros em terracota, por exemplo, custa 25 a 30 euros, enquanto uma imagem de madeira, pintada à mão, e com um metro de altura, ascende aos 2120 euros.
Luís Fonseca recebeu encomendas de todo o País, e até da Alemanha, para onde enviou duas em madeira, uma de D. Nuno monge e outra de D. Nuno guerreiro, ambas com um metro de altura.
"O que mais se vende são as imagens de 50 ou 60 centímetros em terracota, que custam entre 100 e 150 euros. As de madeira são muito mais caras e por isso têm menos procura", assegurou o comerciante.
De resto, para além das compras individuais, têm sido feitas, nos últimos tempos, encomendas em quantidade para colectividades, como paróquias e grupos de escuteiros, conseguindo assim um preço mais em conta.
Onde se compraram umas dezenas de imagens foi em Cernache do Bonjardim, terra natal de D. Nuno Álvares Pereira. No próximo domingo, dia da canonização do mais ilustre filho da terra, as janelas de todas as casas e as montras das lojas comerciais terão pelo menos uma imagem de S. Nuno de Santa Maria.
Imagens, umas antigas, outras agora adquiridas, vão ser exibidas também em grande parte nas sedes de agrupamentos escutistas e nos vários conventos e organismos pertencentes à Ordem do Carmo.


"O POVO ESTÁ DIVORCIADO": D. Januário T. Ferreira, Bispo das Forças Armadas
Correio da Manhã – Acha que estamos perante uma iniciativa de grande popularidade?
D. Januário – Infelizmente, penso que não. A mim parece-me que os portugueses estão divorciados da canonização do Beato Nuno. O povo não está em festa.
– O que o leva a dizer isso?
– A forma como tudo isto foi preparado, ou seja, mal preparado.
– É um devoto do novo santo?
– Sou e tenho pena da forma devocionista e serôdia como ele tem sido apresentado aos portugueses. Aconselho o texto que D. António Ferreira Gomes sobre ele escreveu em 1931.
– Já disse ao ‘CM’ que não vai estar na canonização porque tem o casamento de um sobrinho. Nada se alterou?
– Rigorosamente nada.

"QUEREMOS QUE SEJA A FESTA CONTRA A CRISE"
Os promotores da canonização do Beato Nuno querem que esta cerimónia religiosa seja "um verdadeiro sinal contra a crise".
Para o padre Francisco Rodrigues, vice-postulador da causa, "trata-se de pedir para que aconteça agora o que sempre aconteceu com o Condestável no passado".
"Teve, como se sabe, um papel fulcral no terminar da crise de 1383-85 e quando foi beatificado, em 1918, ajudou à saída de uma profunda crise motivada pela Implantação da República e pela I Grande Guerra", disse o sacerdote carmelita.
Agora a crise que se vive é outra, de carácter económico e financeiro, mas, sublinhando que a crise actual é também de valores, o padre Francisco Rodrigues é claro: "Queremos que seja uma festa contra a crise, que a canonização do Beato Nuno seja um sinal de esperança."
O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Morujão, destacou ontem, em Fátima, a "grandeza espantosa" de Nuno Álvares Pereira, considerando que "ilumina a todos", desde políticos a religiosos.
"É uma figura ímpar da nossa História, da história do heroísmo humano, mas também do heroísmo de santidade", declarou Manuel Morujão.
O responsável sublinhou que Nuno Álvares Pereira foi alguém que, "perante uma crise nacional grave, de identidade e de independência, arriscou a sua vida e entusiasmou as pessoas por uma causa".


Secundino Cunha / Lusa

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