segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Luis Velez de Guevara

À Sepultura do Grande Condestável

Aqui jaz sepultado
Dom Nuno Álvares Pereira,
De Portugal Condestável,
Mas não há aí coisa que o seja.
Ilustre Progenitor
De quantos louros cercam
Na Imperial Monarquia
Tanta Cesárea cabeça.
De quantos Reis a Europa,
E Príncipes a governam,
Cujos brasões heróicos
Competem com as estrelas.
Que foi um Português prodígio
De vitórias, e proezas,
Em Portugal, e em Castela,
E nas Árabes fronteiras.
Generoso descendente
De Pelágio, cujas mesmas
Façanhas tanto imitou,
Que escureceu as alheias.
Sendo novo Viriato
Lusitano, que em empresas
Mas invencíveis, deu invejas
Novas a Alexandre e César.
E depois de tantos triunfos,
Para alcançar a posteridade
Vitória, viveu na clausura
Religiosa, e morreu nela.
Tendo estado nove anos
De vida exemplar e perfeita,
No Carmo de Lisboa,
Que com grande magnificência
Fundou, e de quem foi Patrono,
Leve esta o que seja,
Onde em geladas cinzas
O clarim último espera.
Luis Velez de Guevara
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano,
Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 405/406.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Francisco de Rojas

Ao Sepulcro do Grande Condestável

Epitáfio

Este que em decoroso Monumento,
Sendo cinza, desperta uma chama
Quando se dá luzes à sua fama,
Acresce compaixão ao sentimento,
Foi seu acidente, seu merecimento,
Não foi a dor o veneno que o inflama,
Que aqui em Grande a voz da orbe aclama,
Parece que o viver dura violento.
Este é o mesmo pranto e do chorado,
Seus méritos dirá sua feliz sorte,
Não teve que invejar e foi invejado.
A emulação em pranto se corte,
De todos foi em vida venerado,
E ninguém o premiou, senão a morte.


Francisco de Rojas
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano,
Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 404.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Filipe Godins

À Sepultura do Grande Condestável

Epitáfio

Aqui parou o raio ardente
Dom Nuno Álvares; adora
Estas cinzas e chora
O passado e o presente.
Aquele princípio eminente
Que reduz o seu, a modo
De Divindade, todo o ser Godo,
E tudo o que a fama sabe,
Nesta urna breve cabe:
Ó hóspede, tão nada é o todo!

Doutor Filipe Godins
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano,
Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 403.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de António de Solis Ribadeneira

Ao Túmulo do Grande Condestável

Epitáfio

Neste Ocidente gelado
Jaz, ó caminhante, aquele
Sol, cujo esplendor, nele
Ofuscou de tão dilatado,
Ele que a morte eternizou
Lá na posteridade;
Ainda que no curso da sua idade
Se opôs a Parca atrevida,
Mas em vez de tirar sua vida
Quitou-lhe a mortalidade.

António de Solis Ribadeneira
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano,
Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 402.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Pedro Calderón de la Barca

Ao Sepulcro do Grande Condestável


Funestas pompas e cinzas frias
Sempre convidam a carpir enganos
Das horas de que se fazem os dias,
Dos dias de que se fazem os anos.
Só desta vez as mudas vozes minhas
Te chamam com felizes desenganos,
Te avisam com acertos superiores,
Ó viajante, que invejes e não chores.
Nuno Álvares Pereira, de quem foram
Tantos feitos que ao tempo atraiçoaram,
De quem tantas conquistas se disseram,
De quem tantas façanhas se contaram,
De quem tantos Monarcas descenderam,
E com quem tantas casas se engrandeceram,
Aqui jaz; e tanto é esta pedra leve,
Que admiração e não pranto se lhe deve.
Pois de si mesmo foi o mesmo vitorioso,
Que é a maior vitória em que se incorre,
Deste Templo, Patrono e Religioso,
A si mesmo, em si mesmo se acorre.
Ó se ele é feliz! Só é veramente ditoso
Aquele que duas vezes vive e morre:
Na fortuna temporal, tem uma
E logo outro na imortal fortuna.

Pedro Calderón de la Barca,
Cavaleiro da Ordem de Santiago.
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano, Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 401.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de António Lopez de Vega

Ao Túmulo do Grande Condestável

Epitáfio

Nem o Fúnebre cipreste nem o louro glorioso
Coroe esses despojos imortais,
Que ainda nos ritos da morte fatais
Sabem exibir o vitorioso,
Mora aqui seu valor, triunfa no ocioso,
Se fazem, ainda quando parecem mortais,
As forças do olvido desiguais
E o curso dos anos forçoso.
Não um Túmulo pois, mas uma Palestra
O mármore é a sua maior vitória,
Que guarda os invencíveis e se perpetua.
Salve, sempre vitoriosa destra,
Que até no rio Letes deixas memória
E permanente luz na cinza crua.

António Lopez de Vega
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano, Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 400.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Soror Violante do Céu

Ao Túmulo do Grande Condestável

Epitáfio

Jaz no alto Túmulo que miras
(Como exemplo de excelsas qualidades)
Qanta virtude disseram as verdades,
Quanto valor fingiram as mentiras.
Tu que supenso, ó viajante, admiras
Em tão breve lugar imensidades,
Sabe que há-de viver eternidades,
Esse que vês em Mármores e Piras.
Mas se a virtude, a força e o brio
Deste Varão, em tudo sem segundo,
A tua piedade ignora, duvida do teu siso.
Vê a sua vida que dirás, confio,
Que se bem soube conquistar o mundo,
Melhor soube conquistar o paraíso.

Soror Violante do Céu
(Monja do Convento da Rosa da cidade de Lisboa)
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano,
Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 399.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Tirso de Molina

Ao Sepulcro do Grande Condestável

Epitáfio

Mármores, dai a eternidade
A esse prodígio que escondeis,
Com cujo exemplo admireis
O valor e a piedade.
Esta, com a sua felicidade,

Quitou à pátria as tremuras,
Deu novos Heróis às alturas,
À soberba deu castigo,
Diadema e Reino a seu amigo,
E mais um Santo ao Carmelo.

Mestre Tirso de Molina
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano, Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 398.