sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Novo concerto por São Nuno de Santa Maria - Por Portugal e mais nada de José Campos e Sousa

Aí está!
Dias depois do concerto na Igreja do Sacramento e após o grande sucesso na Noite Condestabriana na Universidade Lusíada, José Campos e Sousa volta ao palco na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no Palácio da Independência, sito no Largo de São Domingos, n.º 11, dia 4 de Dezembro, 6ª feira, às 21h30, com a extraordinária colaboração do contrabaixista Gonçalo Couceiro Feio.
A não perder!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Concerto na Igreja do Sacramento em Lisboa

Na próxima 6ª feira, dia 13 de Novembro, às 21h30, concerto de José Campos e Sousa na Igreja do Sacramento, ao Largo do Carmo, com a colaboração do contrabaixista Gonçalo Couceiro Feio.
Dado o grande êxito do concerto na Universidade Lusíada está a ser agendado um novo concerto, no início de próximo ano, com o mesmo figurino na
Sociedade Histórica da Independência de Portugal

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Noite Condestabriana na Universidade Lusíada

Cd de José Campos e Sousa: São Nuno de Santa Maria - Por Portugal - e mais nada!

Um grande cd, este último trabalho de José Campos e Sousa, que será apresentado na Noite Condestabriana a ter lugar na Universidade Lusíada, dia 6 de Novembro.
Um disco memorável de homenagem ao Condestável e que é um marco na discografia e da Cultura Lusíada.
Uma excelente e original prenda de Natal.
"Por mais um favor do Céu coube-me desta feita dar música e dar voz a muito do que se tem escrito em louvor de Dom Nuno Álvares Pereira, o Condestável, terror dos Castelhanos, verdadeiro Herói da minha infância.
Benditas 3ª e 4ª classes que em 1955/1956 trouxeram à minha vida, de maneira tão fantástica a tão fantástica vida de uma mão cheia de Homens, que começando em Viriato, ajudaram a erguer Portugal.
Dom Nuno é certamente um primeiro entre iguais. Já Fernando Pessoa na “Mensagem” lhe atribuiu no Brasão, o lugar cimeiro – o da coroa.
Vou lançar no próximo mês de Novembro uma edição de autor, “Por Portugal e Mais Nada”, título que roubei ao Rodrigo Emílio, que de várias maneiras está presente neste Torneio.O Rodrigo desafiou-me para esta empresa, há uns bons oito anos, enchendo-me de folhas com poemas e textos sobre Dom Nuno, muito a seu jeito. Este projecto foi sendo adiado por uma razão ou por outra, e somente agora que o nosso Herói foi promovido a Santo, pelo Outro Rei, é que eu tive licença de o acabar. Tinha que ser assim!
É um CD para Portugueses admiradores e herdeiros e seguidores das formaturas de 1143, 1385, e 1640, gente que não tem por hábito pôr-se em bicos dos pés, que só aparece quando é necessária. Gente anónima, modesta, desinteressada e corajosa. Gente que não discute nem põe em causa Portugal, gente que dá sem receber. É para todos esses que eu canto!
Dediquei “Por Portugal – e Mais Nada” a S.A.R. o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança, décimo sexto neto de Dom Nuno e do Mestre de Avis. Faço-o por respeito, por admiração e, principalmente, por devoção a uma causa que precisa urgentemente de um novo Mestre que, como canta Rodrigo Emílio: – “Ponha a andar daqui o Andeiro!”.
A todos os que estiveram presentes no “Rodrigamente Cantando” e na “Mensagem à Beira–Mágoa” quero agradecer o apoio. Espero encontrar-vos de novo neste caminho Português.“Por Portugal – e Mais Nada!”
Lisboa, Outubro de 2009.
Este CD, só disponível em finais de Outubro, pode ser encomendado desde já, pelo email: largodocarmo@gmail.com
Agradeço que juntem a V. morada.
O preço é de 15,00 Euros"

O Condestável - 1360 a 2009 Exposição de Gabriela Marques da Costa




Livro Nuno Álvares Pereira - Homem, Herói e Santo

Textos de: Abílio Pires Lousada, Afonso d’Oliveira Martins, Agostinho Marques de Castro (O. Carmo), Alexandre Sousa Pinto, Ana Loya, António Bagão Félix, António Manuel Couto Viana, António Martins da Cruz, António Tinoco, Carlos Evaristo, Cassiano Reimão, Cristina de Meirelles Moita, Francisco José Rodrigues (O. Carmo), Gonçalo Couceiro Feio, Gonçalo Pistacchini Moita, Guilherme d’Oliveira Martins, Humberto Nuno de Oliveira, Ismael Pereira Teixeira (O. Carmo), João Bernardo Galvão Telles, João José Brandão Ferreira, Joel Silva Ferreira Mata, D. José Saraiva Martins, Leonor Falé Balancho, Luís Adão da Fonseca, Margarida de Mello Moser, Miguel Côrte-Real, Miguel Metelo de Seixas, Nuno Castelo-Branco, Nuno V. Andradre, Paulo Jorge Estrela, Paulo Reis Mourão e Rodrigo Roquette.

sábado, 5 de setembro de 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

Boletim Informativo da SHIP

Boletim Informativo da SHIP n.º270/271, Ano XXV

sábado, 29 de agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Santo Condestável e os políticos contemporâneos pelo Tenente-Coronel Brandão Ferreira



O SANTO CONDESTÁVEL E OS POLÍTICOS CONTEMPORÂNEOS



“Aljubarrota, Exº Senhor não é um facto


isolado na História de Portugal e pode
repetir‐se sempre que haja um governo
consciente da sua missão e saiba pôr acima
dos interesses particulares o interesse
nacional e não faça da cobardia uma
virtude cívica”
General Gomes da Costa
(no discurso ao novo Ministro da Guerra,
em 15 de Agosto de 1925)



Como é do conhecimento público o Condestável (general) português D. Nuno Álvares Pereira – Beato Nuno de Santa Maria, desde 1918 – vai ser canonizado no próximo dia 26 de Abril. Tal evento devia dar lugar a comemorações a nível nacional.
Apesar da cerimónia que vai ter lugar ser eminentemente religiosa, não faz sentido algum que o júbilo e o cerimonial fiquem restritos ao âmbito dos cidadãos católicos.
Não deixa pois, ser curioso notar que a grande maioria dos políticos e todos os órgãos do Estado, sobre o assunto, aos costumes têm dito nada.
Não há até à data qualquer indício de que o governo, por exemplo, tenha qualquer interesse nesta questão.
É lamentável que assim seja, embora fosse expectável face às sucessivas desilusões com que a classe politica tem brindado a população de há largos anos a esta parte no campo da Segurança, da Justiça e do Bem Estar que são a razão de ser das eleições e daquilo que se lhes paga.
Há três ordens de razões – no nosso entendimento – que explicam aquela actuação, este aparente desprezo pela figura ímpar de Nuno Álvares.
A primeira razão prende‐se com o fundo político‐doutrinário das forças partidárias com assento na AR.
A figura de D. Nuno arde‐lhes nas mãos. Por um lado, não consta que a figura do Condestável fosse adepto de questões fracturantes, não era pacifista militante nem adepto de relativismos morais. Depois era um líder – que são os que fazem a História – ao contrário do que defende uma determinada historiografia e conceito político que tenta reduzir os acontecimentos a movimentos de massas e lutas de classes; outros não sabem sequer ao que andam, são falhos de doutrina, parecem mantas de retalhos fazem demagogia barata, pescam em águas turvas. O então Condestável do Reino representa a antítese de tudo isto …
Quanto ao partido no governo tem os seus fundamentos nas tradições jacobinas e anti religiosas da I República a que se juntou, mais tarde, uns laivos de marxismo que se põem ou tiram da gaveta conforme a égide do momento. Têm, por outro lado, um azar especial a fardas, ordem e autoridade.
Como podem apreciar a figura do Santo Condestável, excelsa glória das nossas armas?
Além disso exaltar tão virtuosa criatura – cuja filha, note‐se, deu origem à Casa de Bragança ‐ em pleno arranque das comemorações dos 100 anos da República, não lhes parecerá certamente, dar jeito nenhum...
A segunda ordem de razões tem a ver com o facto de que desde meados dos anos 70 do século passado se ter menorizado (to say the least) toda a nossa epopeia ultramarina – a frase “meter uma lança em África vem, até, de D. Nuno ‐ caluniando alguns dos nossos grandes estadistas, militares, marinheiros, missionários, etc.; promovido e dando lugares importantes e palco, a desertores, oficiais do quadro permanente que esqueceram os seus deveres militares, etc; cidadãos que andaram a pôr bombas, assaltar bancos e a sabotar o esforço de guerra da Nação, passaram a pessoas respeitáveis; rapaziada que em sociedades regidas por gente séria e com princípios, seriam apodados de traidores, passaram a ser venerandas e obrigadas, etc.
Ora ir comemorar o grande Nuno Álvares, exemplo de patriotismo, seriedade e valentia, sem mácula, iria provocar um contraste demasiado gritante. Percebe‐se mas, obviamente, não se pode aceitar.
Finalmente, a outra razão pela qual não se pretende, aparentemente, a nível do Estado dar honras nacionais a tão extraordinário antepassado, tem a ver com a União Europeia e o projecto federalista em marcha. Para se conseguir o objectivo da federação europeia – resta ainda saber o passo seguinte – é preciso acabar com as Pátrias e qualquer resquício de nacionalismo. Isto é, é necessário acabar com os Estados‐Nação, do qual Portugal representa o figurino mais perfeito. O que interessa é esbater os conflitos e tensões de antanho para tudo amalgamar. O que vale, hoje em dia, não é a História de cada país ‐ que representa o passado –, mas sim a História da Europa – que se deseja venha a haver.
Ora lembrar D. Nuno, não cai nada bem neste desiderato. E a maioria dos políticos – que aliás se dizem muito democratas, mas nunca deixam o povo decidir nada do que é efectivamente importante – sabe isso muito bem.
A caridade cristã concede e encoraja, porém, a que as ovelhas (políticos) tresmalhados voltem ao redil. Serão bem vindos e não lhes ficará mal se o fizerem de boa mente.
D. Nuno sobreviverá a tudo isto. E se já era uma figura incontornável na História de Portugal, a partir de 26/4 será personagem viva em toda a Cristandade.
João José Brandão Ferreira
TCor Pilav (Ref)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Túmulo do Convento do Carmo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Pintura de Gabriela Marques da Costa: O Condestável – 1360 a 2009

Monge da Armadura
(100x60cm)

Pelo Reino, pela Pátria, Por Deus
(100x60cm)
O Santo Destemido
(100x60cm)
Táctica do Quadrado
(80x40cm)

A lição de Aljubarrota: apontamento teatral de António Manuel Couto Viana


A LIÇÃO DE ALJUBARROTA

Apontamento teatral de António Manuel Couto Viana.
Pequeno apontamento teatral sobre o tema da batalha
de Aljubarrota e da sua principal figura: Nun`Álvares.



Noite. “Chamas da Mocidade”. Fila cerrada de filiados, empunhando bandeiras da Mocidade Portuguesa. Uma voz:
- Era uma vez um povo que nascera
Dum milagre de Deus numa batalha –
E crescera, crescera…
Como todo o que reza e que trabalha.
Esta pequena e juvenil nação
Talhara, com a espada e com o arado,
O direito ao seu fado
E o direito ao seu pão…
E quando à noite, calma, adormecia,
Por ter lidado
Todo o dia,
O mar,
Na voz duma sereia,
vinha cantar-lhe a doce melopeia
dos mundos e oceanos por achar.
E feliz vivia assim.
Mas a cobiça da terra
Premeditou o seu fim
- Por isso lhe moveu guerra.
(Invejas, ódios, rancores
Só atingem os maiores).
- Meu povo destinado
A dar ao mundo exemplos de nobreza;
Meu povo abençoado;
Oh gloriosa terra portuguesa:
Vem defender o teu destino dado
Por Deus,
Quando gravou nos céus,
Perante os piedosos olhos teus,
As chagas do Seu Filho humanizado!

(A fila divide-se pelo meio e afasta-se, um para a direita, outra para a esquerda, deixando ver uma pequena fogueira e uma tenda de campanha do século XII. Junto da fogueira, ajoelhado, de perfil para o público, Nun`Álvares. Outra voz:)

- Numa noite de Agosto,
À luz duma fogueira crepitante,
Que o seu perfil estático modela,
Nuno, quase infante,
Vela.
Que estranha brisa agita os seus cabelos?
E quem deu tanto brilho no seu olhar?
(As nuvens lembram naves e castelos
Batidos pelo luar).
Que murmuram seus lábios? Que oração?
As suas mãos descansam sobre o peito,
No doce jeito
De escutar o bater do coração.

D. NUNO

Senhor!
Teu servo sou, bem pecador,
E sei que não mereço
Seja o que for,
Um divino sinal
Do teu apreço.
Mas, senhor, eu nasci em Portugal!
E é só por ele que rezo.
Tu, que lhe deste a vida
Na espada ungida
Do primeiro Rei
Que lhe talhou a sorte,
Não podes dar, agora, a fria morte
À sua grei.
Senhor!
Teu servo sou, bem pecador,
Mas entrego-te a minha vida inteira.
Dela farei, Senhor, uma bandeira
Pelo amor da Pátria e Teu amor.
Qual outro Galaaz,
Serei puro e audaz,
Protegerei os fracos, as crianças,
E só quebrarei lanças
Quando a causa for justa.
E mais digo, Senhor, que não me custa
Esta promessa,
Pois poderei cumpri-la
Sem que nada mo impeça,
Com toda a força do meu coração
E a alma tranquila,
Se me amparar tua divina mão.
Senhor!
Vai travar-se a batalha decisiva:
Quem sabe se amanhã será cativa
A bandeira que, ao vento, além, se agita?
Senhor!
- Tua bondade é infinita –
Se outra bandeira,
Odiada por ser uma estrangeira,
Manchar meu Portugal de lés a lés,
(Senhor!
Creio na Tua clemência…)
Se o tributo da nossa independência
For o meu sangue: aqui me tens aos pés!

(Cala-se D. Nuno. Curva docemente a cabeça, pronto a todo o sacrifício por amor de Portugal. De novo a segunda voz:)

E Nuno reza, reza… De repente,
Como uma estrema refulgente
Que tombasse do Céu,
Um Anjo lhe apareceu.

(Surge um Anjo, trazendo uma cruz que se aproxima, lentamente de D. Nuno. Este olha-o, num arrebatamento. Luz intensa. A segunda voz continua, sem interrupção:)

Ao seu redor tudo se iluminou
Deus atendera a prece comovida
E em seguida,
Suavemente em seguida,
Pela boca do Anjo assim falou.

Anjo

Vai!
Tua oração
Abrasou meu coração
De Pai.
Sim, eu aceito o teu amor,
Tua vida trilhada em meu louvor,
Teus joelhos no pó e as mãos erguidas,
Exemplo nobre de milhões de vidas,
De outros cometimentos,
De sacrifícios e de sofrimentos;
Por ti eu salvarei a Portugal,
Por essa fé dum outro Galaaz
- De novo, este é o sinal:
Com ele, vencerás!

(O Anjo ergue a cruz bem alto. As duas filas de filiados, vindas da direita e da esquerda de novo ocupam completamente a cena, escondendo D. Nuno e o Anjo. Ao longe, ouvem-se toques de clarins e rufar de tambores. A segunda voz:)

E chegou o momento, finalmente,
De novo extenso campo, frente a frente,
Se avistaram as hostes contendoras.
Agitam-se guiões ao sol da tarde
E no peito de Nuno vibra e arde
A fé nessas palavras salvadoras.
É tão restrita a turba lusitana
Ante a maré que cresce, flui, alaga
Da gente castelhana
Na força rude de quem tudo esmaga!
Mas quem pode lutar contra o direito,
Com Deus por Capitão?
Todo o mais forte, valoroso feito,
Resulta nulo, vão.
- E Portugal, por si, tinha o direito
E Deus por Capitão!
Já o inimigo leva de vencida,
Já foge o invasor…
E a espada de Nuno, erguida,
Dá a exacta medida
Do seu valor.
A estrangeira bandeira
Já se rende a seus pés
- que aleluia percorre a terra inteira
De lés a lés!
Trombeta castelhana:
Teu som, que o Guadiana
Ouvira temeroso.
Aqui, para sempre cessou –
Outro valor se elevou:
Outro valor mais alto e poderoso!

(De novo dividida em duas, a fila dos filiados afasta-se, deixando ver, de pés, a figura do Condestável. Atrás deste, um mastro hasteando a bandeira de Aljubarrota)

D. NUNO

Graças Te dou, Senhor, pela vitória
Que nos deste;
Há-de permanecer na nossa História
A salvadora dádiva celeste.
Pela promessa cumprida,
Portugal Te consagra, d`ora avante, a vida.
E a dilatar a Tua fé irá, por mar,
Em procura de mundos por achar.
Nas brancas velas
Das suas caravelas
Tua bendita cruz há-de bordar.
E por amor de Portugal e Teu amor,
O mundo se abrirá como uma flor.
Depois subirão ao Céu
Os zimbórios e torres das Igrejas.
E na calma do lar ou nas pelejas
No Maduré ou em Fez,
O português
Sempre terá na boca o nome teu.
Eu,
Pra melhor Te servir, professarei:
Dei a espada ao meu Rei,
A Ti, a minha vida, dia a dia…
Aceita, pois, Senhor, o coração
Deste servo que pede o Teu perdão:
Nuno de Santa Maria.
À luz do teu sinal,
Outros continuarão
A lutar e a vencer por Portugal.
E em sua viril beleza
- Novos Alas gentis dos Namorados –
Eternamente a Mocidade Portuguesa
Há-de lembrar os séculos passados
E aprender a lição
Deste espantoso, milagroso feito:
Só vence quem, por si, tem o direito
E Deus por Capitão:

(As duas filas de filiados de novo se vêm unir na frente de D. Nuno. E repetem em coro:)

Só vence quem, por si, tem o direito
E Deus por Capitão!

(Com esta certeza, aqui termina o pequeno apontamento teatral).

Lisboa, 23 e 24 de Julho de 1948.
António Manuel Couto Viana

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Livro da Missa de Acção de Graças


Reportagem fotográfica da Missa de Acção de Graças na Igreja de Santo Condestável











Bento XVI e S. Nuno. Lições de uma canonização por Massimo Introvigne

Bento XVI e S. Nuno. Lições de uma canonização


A data de 26 de Abril de 2009 está destinada a ser uma data de referência na história de Portugal e da Igreja, por ser a data da canonização de São Nuno Álvares Pereira (1360-1431), uma figura sem a qual – como recordou o Bispo de Beja, D. Vitalino Dantas O. C. D. - «não haveria Portugal».
A canonização de São Nuno tem uma história longa. Em 1438, sete anos depois da sua morte, o Rei D. Duarte (1391-1438) solicita ao Papa Eugénio IV (1383-1447) a canonização de Nuno Álvares Pereira. Uma vez que este tinha vivido grande parte da sua vida como militar e general, tendo combatido contra Espanha pela independência de Portugal, o veto espanhol impediu que a solicitação do rei português fosse atendida. E Espanha, grande potência católica que não pode deixar de ser tida em conta, continuará a opor-se aos pedidos de beatificação e canonização que todos os séculos chegam a Roma, enviados de Portugal, até que, em 1918, reconhecendo – sem processo canónico sobre a santidade – o culto prestado desde tempos imemoriais ao herói português, Bento XV (1854-1922) o inscreve na lista dos beatos. Não obstante, os pedidos de canonização continuam a deparar com a hostilidade de Espanha. Em 1940, Pio XII (1876-1958) pretendeu canonizar o Beato Nuno, a fim de o propor como modelo de militar cristão aos combatentes da II Guerra Mundial. Mas a canonização por decreto não prevê a realização de uma cerimónia solene em São Pedro. Ora, o primeiro-ministro português, António de Oliveira Salazar (1889-1970), insiste na organização de uma cerimónia solene, que Pio XII se recusa a promover, quer devido à guerra mundial, quer – uma vez mais – para evitar um recontro com Espanha, que acabava de sair de uma guerra civil.
Eliminada a possibilidade de canonização por decreto, Portugal e a Ordem dos Carmelitas – para a qual Nuno Álvares Pereira entrara nos últimos anos da sua vida – continuaram interessados na causa. É João Paulo II (1920-2205) – que se sente especialmente ligado a Portugal por via da sua devoção a Nossa Senhora de Fátima – quem promove a reabertura do processo canónico, que terá lugar em 2004. Reexaminada a vida do beato, a comissão médica aprova um milagre (a recuperação da vista num dos olhos por Guilhermina de Jesus, de Vila Franca de Xira) e Bento XVI pode proceder à canonização, 571 anos depois da primeira solicitação por parte de D. Duarte. Mas não o fará sem novas polémicas com Espanha: de acordo com a imprensa portuguesa, estava previsto que, a 26 de Abril, fossem igualmente canonizados dois beatos espanhóis; esta cerimónia foi, contudo, adiada para 11 de Outubro, na sequência de complexas negociações entre a diplomacia vaticana e espanhola, que permanece, ainda hoje, hostil à canonização do general que infligiu a Espanha uma das mais decisivas derrotas militares da sua história.
A verdade, porém, é que também não faltaram polémicas intra-católicas. Alguns intelectuais «progressistas», e pelo menos um bispo, criticaram esta canonização, afirmando que São Nuno «foi sobretudo um militar e quem mata o próximo não merece o título de santo». Estas posições – que denotam, para além de tudo o mais, um profundo desconhecimento da natureza da santidade católica – levaram outros a insistir exclusivamente nos últimos nove anos da sua vida (1422-1431), que o novo santo – depois de ter mandado construir, a suas expensas, o Convento do Carmo, em Lisboa – viverá na qualidade de frade carmelita, interpretando estes anos quase como uma penitência pelo seu passado de militar, que é visto como um aspecto de que São Nuno deveria pedir perdão, a Deus e aos homens.
As palavras proferidas por Bento XVI na solene cerimónia de canonização contrariam estas interpretações e estes preconceitos. Com efeito, o Papa exaltou a figura do cavaleiro cristão, empenhado na «militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo; características dele são uma intensa vida de oração e uma absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de quem era devotíssimo e a quem atribuía publicamente as suas vitórias».
Assim, o general Nuno Álvares Pereira torna-se instrumento de um «desígnio superior», a saber, a fundação de uma nação portuguesa independente de Espanha, nação missionária destinada a levar o Evangelho aos confins da terra. Graças a São Nuno, Portugal pôde «consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus –, abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra».
São Nuno é, acima de tudo, uma figura emblemática da cavalaria. Pajem na corte do rei, com apenas 13 anos é armado cavaleiro, por especial concessão do Grão-Mestre da Ordem Militar de São Bento de Avis, o futuro Rei D. João I, o de Boa Memória (1357-1433). Ainda muito jovem, envolve-se na causa da independência de Portugal e da sucessão do Rei D. Fernando, o Belo (1345-1383). A regência passa para as mãos da viúva, a Rainha D. Leonor (1350-1386), manifestamente próxima do partido filo-espanhol, que acelera o casamento de sua filha D. Beatriz (1372-1408) com o Rei D. João I de Castela (1358-1390), preparado com vista à união entre os dois reinos e ao fim da independência portuguesa. Os nobres e o povo de Portugal insurgem-se contra esta medida e apelam à Ordem de Avis, dirigida pelo Grão-Mestre D. João, meio-irmão do falecido Rei D. Fernando. D. João I de Castela reage e, em Janeiro de 1384, invade Portugal. Recentemente aclamado Rei de Portugal com o nome de D. João I, o Mestre de Avis toma uma decisão aparentemente arriscada, mas que virá a ser decisiva: nomeia D. Nuno Álvares Pereira, que se cobrira de glória nas primeiras batalhas contra os espanhóis e acabava de conduzir um destacamento português à vitória na batalha dos Atoleiros, mas tem apenas 24 anos, Condestável de Portugal e comandante supremo do exército português.
Os historiadores militares consideram Nuno Álvares Pereira um dos maiores generais europeus e a Batalha de Aljubarrota – que teve lugar a 14 de Agosto de 1385 e foi decisiva para a vitória portuguesa – um recontro que merece figurar na história das guerras europeias, dado que consagra a superioridade (já experimentada pelo futuro santo em Atoleiros) dos exércitos ligeiros e móveis sobre forças numericamente superiores, mas constituídas principalmente por cavalaria. Seis mil portugueses derrotaram trinta mil espanhóis, graças a uma estratégia que empurrou a pesada cavalaria castelhana para um terreno semeado de estacas propositadamente colocadas na vertical, para dificultar as manobras dos cavalos; estes foram então abatidos pelos soldados a pé e pelos cavaleiros portugueses, que se encontravam em condições de desmontar a voltar a montar a grande velocidade, enquanto os cavaleiros espanhóis, apanhados de surpresa e tendo perdido o controlo das montadas, eram também mortos em grande número. Nuno Álvares Pereira combateu pessoalmente na linha da frente. A vitória de Aljubarrota – à qual se seguiu a prolongada Batalha de Valverde, que durou dois dias e duas noites, entre 15 e 16 de Outubro de 1385 – pôs fim ao sonho espanhol de conquistar Portugal.
Após a vitória na guerra contra Castela, Nuno Álvares Pereira aplica a portentosa recompensa que o rei lhe atribui no projecto de fundação do Convento do Carmo, em Lisboa, a cuja construção dá início em 1388. Ainda não tem a intenção de vir a ser frade; o rei encarregara-o de reorganizar o exército, com vista a uma ofensiva contra os muçulmanos do norte de África que, longamente preparada, culminará na Batalha de Ceuta, que teve lugar a 21 de Agosto de 1415, que será a última batalha do Condestável D. Nuno e marcará o início da expansão de Portugal para fora da Europa.
Tendo ficado viúvo e privado de sua filha Beatriz (1380-1415) que, depois de se ter casado com D. Afonso, o primeiro Duque de Bragança (1377-1461), filho natural do Rei D. João I, lhe tinha dado três netos – que estão na origem da casa real e imperial de Bragança, de que São Nuno é, por isso, considerado o fundador –, o Condestável retira-se para a vida privada e, em 1422, entra para o Convento do Carmo onde, a 15 de Agosto de 1423, faz os votos; por uma questão de humildade, professos como simples «semi-irmão» (semi-frater), recusando todos os cargos e distinções que lhe são oferecidos.
Já no convento, torna-se notório pela sua vida de grande pobreza – ele que tinha sido considerado o homem mais rico de Portugal – e pela sua enorme caridade; o Rei D. João I vem muitas vezes aconselhar-se com ele. Foi, nas palavras de Bento XVI, «o ocaso da sua vida». A sua morte, ocorrida em 1431 – em data que os historiadores discutem mas que a tradição coloca no domingo de Páscoa, que nesse ano calhou a 1 de Abril –, suscitou grande emoção, demonstrando que tinha fama de santidade. Merece referência a atitude da Rainha de Espanha, Isabel I, a Católica (1474-1504), que o considera pessoalmente um santo, e manda invocar, nas missas celebradas na corte, aquele que fora, como general, um feroz adversário do seu país.
Nuno Álvares Pereira foi sepultado no Convento do Carmo, mas o túmulo, o mausoléu e o próprio convento serão destruídos pelo grande terramoto de Lisboa, ocorrido em 1755 (existe actualmente, nas ruínas do convento, que é hoje um museu, uma reprodução em madeira do mausoléu). Os restos mortais do santo foram recuperados e repousam, desde 1951, na moderna Igreja do Santo Condestável, em Lisboa.
A canonização de São Nuno, declarou Bento XVI, pretende mostrar à Igreja que se pode viver «uma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e os princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus».
E, embora tenha havido quem procurasse diminuir a longa fase «militar e bélica» da vida do novo santo – como se a santidade de Nuno Álvares Pereira apenas se tivesse manifestado no «ocaso da sua vida» no convento –, Bento XVI salienta, pelo contrário, a «figura exemplar» do Condestável também como cavaleiro, milites Christi, uma vocação a que a cavalaria dá o nomen, e que se manifesta, naturalmente, de modos diferentes em diferentes épocas, sem no entanto deixar de ser um caminho eminente de santidade para o leigo católico que consagra a sua vida «ao serviço do bem comum e da glória de Deus».
É certo que Nuno Álvares Pereira viveu num período em que a cavalaria começava a entrar em decadência. Combatem a seu lado, em Aljubarrota, os filhos das mais importantes famílias portuguesas, duzentos cavaleiros que constituem a «Ala dos Namorados» e que a lenda de Portugal compara aos Cavaleiros da Távola Redonda. O nome é uma referência às insígnias das noivas, que estes cavaleiros ostentavam no escudo, e assinala uma viragem da cavalaria para um certo romantismo sentimental, que São Nuno sabe contudo, na vigília da batalha, corrigir com um austero apelo à oração e à vida eterna. Na realidade, a Ala dos Namorados acabará por se bater com extraordinária coragem, que foi decisiva para a vitória portuguesa.
A actividade «militar e bélica» do santo agora canonizado é um dos elementos da exemplaridade da sua vida. Mais ainda: mantendo a confiança em Deus na guerra e nas batalhas, a par de uma vida de oração e de uma enorme devoção a Nossa Senhora, a quem «atribuía publicamente as suas vitórias», São Nuno coloca-se ao serviço de um «desígnio particular de Deus», que se encontra misteriosamente na origem da independência da nação portuguesa e do seu serviço missionário ao Evangelho, através de descobertas geográficas e de conquistas que a levarão «aos confins da terra». Um mistério que, em 1917, Nossa Senhora virá confirmar em Fátima, prometendo que «em Portugal se há-de conservar sempre o dogma da fé», promessa nada pequena para uma nação que, contando nas suas fileiras com um São Nuno Álvares Pereira, tem um passado glorioso de serviço à Igreja.



Massimo Introvigne

Fonte: Benedetto XVI e San Nuno Alvares Pereira. Le lezioni di una canonizzazione

domingo, 26 de abril de 2009

Estandarte oficial da Canonização


Livro da Canonização


Bilhete de ingresso para a canonização


RTP2: Câmara Clara

Programa Câmara Clara, transmitido na RTP2, com a participação de D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e Dr. João Gouveia Monteiro, especialista de História Militar da Idade Média da Universidade de Coimbra.

RTP1: Nuno Álvares Pereira foi canonizado no Vaticano

RTP1: Dois mil portugueses acompanharam canonização do Condestável

SIC: Primeiro Jornal (1.ª parte - 26.04.2009)

Ver entre os o6,46 e 12,50 minutos

Santa Sé canoniza Nuno Álvares Pereira

SIC: Santo português (24.04.2009)

RTP: Canonização de Nuno Álvares Pereira foi seguida no Crato

SIC: Monárquicos no Vaticano (25.04.2009)

SIC: São Nuno de Santa Maria (25.04.2009)

RTP: Vaticano canoniza Nuno Álvares Pereira

RTP: Canonização de D. Nuno Álvares Pereira marcada para domingo

RTP: Portugueses a caminho do Vaticano

RTP: Centenas de portugueses rumam a Roma

RTP: Cavaco Silva manifesta orgulho pela canonização do Condestável

RTP: Peregrinos a caminho de Roma para canonização de Nuno Álvares Pereira

RTP: Caminhada por Nuno Álvares Pereira

RTP: Fraternidade Nuno Álvares Pereira

RTP: Portugueses em Roma por Nuno Álvares

RTP1: Bragança dedicou missa ao patrono Nuno Álvares Pereira

Exposição Dom Nuno Álvares Pereira na Bilioteca Nacional

Exposição Dom Nuno Álvares Pereira, na Biblioteca Nacional, de 24 de Abril a 13 de Maio de 2009, de seg. a sex. das 10h00 às 19h30; sáb. das 10h00 às 17h30.

Expresso: Condestável teve "valores e princípios" cristãos na guerra


Bento XVI afirmou que a vida do Condestável é uma "prova de que, em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélica, é possível actual e realizar os valores e princípios da vida cristã".
O Papa destacou hoje a vida do agora São Nuno, o Condestável, elogiando o facto de mesmo em confrontos militares ter mantido os "valores e princípios" cristãos, algo que contribuiu para a sua canonização, que se realizou hoje em Roma.
A vida do
Condestável é uma "prova de que, em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélica, é possível actual e realizar os valores e princípios da vida cristã", afirmou Bento XVI na homilia das cerimónias perante os milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro , muitos dos quais portugueses.
A parte do discurso proferida em português e dedicada ao novo São Nuno, Bento XVI recordou que durante a sua vida, Portugal veio a "consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos oceanos", permitindo a "chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra".
"São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior" e assumindo o "serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo", optou por uma "intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino", salientou o Papa.
Por isso, "embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais" sobreporem-se à fé, "imitando Nossa Senhora de quem era devotíssimo e a quem atribuía publicamente as suas vitórias", explicou Bento XVI, recordando que o Condestável, no fim da sua vida, se retirou para "o convento do Carmo por ele mandado construir".
Nesse sentido, "sinto-me feliz por apontar à igreja inteira esta figura exemplar", resumiu o Papa durante as cerimónias que religiosas, onde marcou presença vários portugueses, entre os quais o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, e o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Valença Pinto.
Durante as cerimónias, a mulher cuja cura do olho sustenta o milagre que permite o processo canónico, foi chamada para levar um dos símbolos de D. Nuno (a imagem, velas ou flores) que irão representar o Condestável, acompanhada do seu filho, Carlos Evaristo, e do presidente da Fundação da Batalha de Aljubarrota, Alexandre Patrício Gouveia.
Nas cerimónias, concelebraram com Bento XVI e vários elementos da cúria romana, os cardeais Saraiva Martins e José Policarpo, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, e os bispos José Alves (Évora), Antonino Dias(Portalegre),Vitalino Dantas (carmelita de Beja), o superior geral da Ordem do Carmo em Portugal, frei Agostinho Castro, além de outros sacerdotes.
No guião da cerimónia, a Santa Sé classifica o Condestável como o "homem mais rico de Portugal" do seu tempo que "por amor de Deus fez-se pobre, inteiramente pobre" e "distribuiu todos os seus bens pela Igreja, pelos pobres, pela família e pelos antigos companheiros de armas".
"Só por ordem do rei é que deixou de andar pelas ruas a pedir esmola para os pobres" e "do que o rei lhe mandava para seu sustento, distribuía tudo o que podia pelos pobres, socorrendo e assistindo na agonia aos moribundos", refere ainda o guião.
Dos cinco novos santos, o Condestável é o único não italiano e também aquele que não está directamente relacionado com a fundação de uma instituição religiosa, embora a promoção da sua Causa tenha sido assumida pela Ordem do Carmo.
Juntamente com o Beato Nuno, serão canonizados o sacerdote Arcangelo Tadini (fundador da Congregação das Operárias da Santa Casa de Nazaré), o abade Bernardo Tolomei (Congregação de Santa Maria do Monte Oliveto da Ordem de São Benito), Gertrude Comensoli (Instituto das Religiosas do Santíssimo Sacramento) e Caterina Volpicelli (Congregação das Servas do Sagrado Coração).

Público: Cardeal Saraiva Martins “feliz” com trabalho feito


Era um cardeal feliz e bem disposto aquele que atravessava a Praça de São Pedro, ao princípio da tarde, depois da missa de canonização de frei Nuno de Santa Maria e de mais quatro santos portugueses. José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos até Julho do ano passado, afirmava ao PÚBLICO que “depois de tanto trabalho” com o processo de canonização, estava “feliz” com a cerimónia que acabara de viver.
“É um dia grande para Portugal, um dia extraordinário e histórico, não só para a Igreja mas para todos os portugueses”, afirmou. “Tive o privilégio de levar o beato a ser canonizado”. Não queria deixar a Congregação da Causa dos Santos sem concluir o processo de canonização.”
D. José Saraiva Martins admitiu que o processo de frei Nuno de Santa Maria teve que ser concluído em “três meses”, com tarefas que levam “cinco a seis anos”. “Considero um privilégio Deus ter-me permitido encerrar o processo.”
O novo santo português – o oitavo desde a fundação da nacionalidade – deve ser um exemplo “maravilhoso” para os mais jovens: “Um nobre, guerreiro, rico, que deixou tudo para se tornar irmão leigo na Ordem Carmelita e que nos últimos tempos andou a pedir esmola por Lisboa para dar aos pobres.”
Saraiva Martins concorda entretanto com o cardeal-patriarca: quem foi canonizado não foi a figura política, mas a “santidade” do Condestável; e é necessário aprofundar aspectos ainda pouco conhecidos da biografia de frei Nuno.


António Marujo
26.04.2009

História do Cavaleiro D. Nuno




HistoriadocavaleiroDNuno





HistoriadocavaleiroDNuno papinto Folheto de divulgação infantil da vida de São Nuno Álvares Pereira






Público: Papa sublinha dimensão de "herói" de Frei Nuno de Santa Maria

D. Nuno Álvares Pereira foi proclamado santo esta manhã, às 10h33 (09h33 em Lisboa) no Vaticano, perante milhares de pessoas, entre elas duas mil portuguesas. O Papa sublinhou a dimensão de "herói" do novo santo português mas não referiu a sua generosidade.
O Papa Bento XVI referiu-se, há poucos minutos, a Frei Nuno de Santa Maria, o oitavo santo português proclamado em Roma às 10h33 (09h33 em Lisboa), como "herói e santo de Portugal", que viveu numa época em que a nação consolidou "a sua independência de Castela".
Lendo em português o parágrafo dedicado a Frei Nuno, Bento XVI acrescentou que, embora o novo santo "fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus".Ontem, na conferência de imprensa em Roma a propósito da canonização, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, recusara várias vezes a "exaltação patriótica" da figura de Nuno Álvares Pereira.
As referências do Papa Ratzinger a Frei Nuno de Santa Maria foram sublinhadas várias vezes por aplausos dos cerca de dois mil portugueses e carmelitas que estarão presentes na Praça de São Pedro.
Bandeiras de Portugal, Açores e Brasil, faixas com inscrições, estandartes de escuteiros - o Condestável é patrono do Corpo Nacional de Escutas - assinalam numa Praça de São Pedro que se foi enchendo de pessoas, sendo perto de 30 mil no final da cerimónia, a presença dos peregrinos ligados a Frei Nuno.
Na homilia, que acabou há poucos minutos, Ratzinger acrescentou ainda que Nuno Álvares Pereira é exemplar pela "presença de uma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis às mesmas". Em qualquer situação, "mesmo de carácter militar e bélica, é possível actualizar e realizar os valores e princípios da vida cristã", acrescentou.
No entanto, o Papa não referiu, explicitamente, a generosidade de Frei Nuno para com os pobres. Depois de ter comandado o exército de D. João I, nomeadamente vencendo os castelhanos na batalha de Aljubarrota em 1385, o Condestável renunciou a todos os títulos e propriedades, distribuindo os seus bens pelos pobres e necessitados.
Ainda na homilia e a propósito da vida de Caterina Volpicelli, outra santa hoje proclamada, o Papa afirmou: "é possível construir uma sociedade aberta à justiça e à solidariedade, superando o desequilíbrio económico e cultural que continua a subsistir em grande parte do nosso planeta".A fórmula de canonização pronunciada por Bento XVI às 10h33 locais, afirma: "Declaramos e definimos santos os beatos Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, Geltrude Comensoli e Caterina Volpicelli, e inscrevemo-los no Álbum dos Santos e estabelecemos que em toda a Igreja eles sejam devotamente honrados entre os santos”.
Na missa, a concelebrar com o Papa, participaram dez bispos e padres ligados à figura de Frei Nuno de Santa Maria: D. José Policarpo (cardeal-patriarca de Lisboa); D. Jorge Ortiga (arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal); os bispos de Évora (José Alves), Beja (António Vitalino) e Portalegre (Antonino Dias); o cardeal Saraiva Martins (ex-responsável da Congregação para a Causa dos Santos); os padres Fernando Millán (superior-geral dos Carmelitas), Agostinho Castro (provincial dos Carmelitas portugueses), Francisco Rodrigues (vice-postulador da Causa da Canonização) e José Filipe Agostinho (prior do Santo Condestável em Lisboa).

Os santos portugueses

Frei Nuno de Santa Maria torna-se assim o oitavo santo português desde a fundação da nacionalidade. A última portuguesa a ser proclamada santa foi Beatriz da Silva, que viveu entre cerca de 1426 e 1492, tendo fundado a congregação da Imaculada Conceição. A lista dos restantes portugueses canonizados pela Igreja Católica inclui São Teotónio, Santo António, a Rainha Santa Isabel, João de Deus, Gonçalo Garcia e João de Brito. Santo António protagonizou a mais rápida canonização da história – menos de um ano após a sua morte, pois nessa época a Igreja não exigia o reconhecimento de curas milagrosas. Gonçalo Garcia nunca viveu em Portugal: era filho de um português e de uma indiana, tendo nascido na Índia em 1557 e morrido mártir em Nagasaqui (Japão), como frade franciscano em 1593.

António Marujo
Público, 26.04.2009

Jornal de Notícias: Muitos portugueses entre os peregrinos nas cerimónias


Roma, 26 Abr (Lusa) - Os cinco mil convidados para a cerimónia de canonização do até agora Beato e novo São Nuno ou Santo Condestável, hoje, na Basílica de São Pedro, em Roma, alguns deles portugueses, já começaram a ocupar os seus lugares na praça.
Apesar da chuva, a maior parte das cadeiras do recinto da Praça de São Pedro foram ocupadas a bom ritmo e os grupos distinguem-se pelos chapéus e lenços que usam, mesmo que por debaixo das capas e dos impermeáveis para o mau tempo.
Os portugueses distribuíram centenas de chapéus verdes e lenços alusivos à canonização e são muitos, entre os quais mais de duas centenas de escuteiros, os grupos espalhados que ostentam esta simbologia particular, além de serem visíveis algumas bandeiras portuguesas.

Público: Patriarca recusa “exaltação patriótica” do Condestável e lamenta “pouca” atenção do Estado

Patriarca recusa “exaltação patriótica” do Condestável e lamenta “pouca” atenção do Estado

O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, recusou esta tarde, em Roma, a “exaltação patriótica” da figura do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. Em algumas épocas, “a exaltação patriótica prejudicou o processo de canonização”, referiu.
D. José falava numa conferência de imprensa a propósito da canonização de frei Nuno de Santa Maria, que amanhã o Papa proclamará na Praça de São Pedro. O patriarca recusou por diversas vezes a ideia de um aproveitamento nacionalista da figura do general que derrotou os castelhanos em Aljubarrota, em 1385: “Punhamos de parte toda a exaltação patriótica e punhamos o acento naquilo que é específico da Igreja, de contemplar o mistério da santidade em todas as circunstâncias”.
Admitindo que desde o início o processo foi “muito atribulado”, o cardeal entende que a “exaltação patriótica” tenha aparecido em diferentes fases da história portuguesa. Desde logo, pela “história atribulada” das relações com Castela.
Um dos episódios de tais tribulações foi com o ditador Oliveira Salazar. “Consta que [Salazar] quis fazer a oferta [de canonizar o Condestável] aos irmãos espanhóis”, ironizou o patriarca. “Houve uma grande misturada de questões patrióticas” e de uma “causa nacional”. E o facto de em Lisboa ter sido consagrada uma igreja paroquial ao Santo Condestável, nos anos 40, “amorteceu o entusiasmo pela canonização”, afirmou.
Na mesma linha, o historiador e reitor da Universidade Católica, Manuel Braga da Cruz, disse que o aprofundamento do conhecimento do Condestável permitirá conhecer o “sucesso” da sua vida. Um fenómeno que permitiu mesmo a instrumentalização da sua figura.
Braga da Cruz reiterou que está a ser canonizada “uma das figuras maiores da história de Portugal – esquecer isto é ausência de responsabilidade”. E admite que “qualquer grupo tem legitimidade para reivindicar a herança” do Condestável. Já aconteceu com republicanos como António José de Almeida e Jaime Cortesão, com poetas como Pessoa e Camões ou com o regime do Estado Novo, referiu.
D. José Policarpo considera que a partir de agora há muito para fazer, nomeadamente pelos investigadores: a relação do Condestável com a mãe será um dos aspectos que o patriarca considera indispensável investigar. “Tudo leva a crer que terá sido uma pessoa marcante na primeira parte da vida de D. Nuno”.
Do mesmo modo deve ser estudada a relação com o mestre de Avis e futuro rei D. João I. “Em que medida o projecto de D. Nuno para Portugal coincidia com o de D. João? Tudo leva a crer que, se ele quisesse, poderia ter sido ele o rei. Mas ele não quis”, afirmou.
Cura, peça “secundária”
Sobre a cura que permitiu a canonização de frei Nuno de Santa Maria – Guilhermina de Jesus, cozinheira, ficou sem ver por causa de óleo a ferver que lhe atingiu o olho esquerdo, aparecendo depois curada –, o patriarca diz que essa “é uma peça secundária”. O processo, confidencial, diz que os médicos consultados concluíram que a cura poderia ter sido por causa miraculosa ou por causa dos medicamentos. “Certo é que a senhora ficou a ver de repente.” Sobre a importância dada pelo Estado português à cerimónia, o patriarca considera que é “pouca”. O Estado ainda “convive mal com a realidade da Igreja e da santidade.” Apesar disso, diz ter ficado “contente com a reacção discreta”. Porque, frei Nuno de Santa Maria servisse “para alguma causa, já teria servido”.
O patriarca admite que faz falta “uma boa biografia” do Condestável. E que recebeu cartas de protesto pela canonização: “Perguntam-me como se canoniza um home que matou? Mas ele impedia violências escusadas, os saques, a preocupação com os feridos do inimigo”. Essa é outra faceta que, além do homem que deixou todos os bens para se tornar frade carmelita, importa reter. “Numa coisa D. Nuno não deixa consciências tranquilas: a acomodação ao imediato. Ele é inconciliável com a mediocridade.”

António Marujo
Público, 25.04.2009

Expresso: Muitos portugueses entre os peregrinos


Mesmo com chuva, a Praça de São Pedro está cheia no dia em Nuno Álvares Pereira é canonizado.
Os cinco mil convidados para a cerimónia de canonização do até agora Beato e novo São Nuno ou Santo Condestável , hoje, na Basílica de São Pedro, em Roma, alguns deles portugueses, já começaram a ocupar os seus lugares na praça.
Apesar da chuva, a maior parte das cadeiras do recinto da
Praça de São Pedro foram ocupadas a bom ritmo e os grupos distinguem-se pelos chapéus e lenços que usam, mesmo que por debaixo das capas e dos impermeáveis para o mau tempo.
Os portugueses distribuíram centenas de chapéus verdes e lenços alusivos à canonização e são muitos, entre os quais mais de duas centenas de escuteiros, os grupos espalhados que ostentam esta simbologia particular, além de serem visíveis algumas bandeiras portuguesas.
Mas nesta competição de insígnias, os vencedores são os chapéus vermelhos de Caterina Volpicelli, uma das quatro figuras italianas que será hoje canonizada a par do Santo Condestável. Fundadora das Servas do Sagrado Coração, uma instituição que, no século XIX em Nápoles, apostou no apoio social aos pobres à semelhança dos franciscanos, Caterina Volpicelli faleceu em 1894 e em Junho de 1999, João Paulo II, aprovou a sua beatificação. Apesar disso, quando o leitor da cerimónia anunciou o nome de
Nuno Álvares Pereira foram ouvidos aplausos, um sinal da presença elevada de portugueses no recinto. Uma cerimónia de canonização de um português não se realizava em Roma desde 1976, ano em que foi confirmado o culto universal da fundadora da Ordem da Imaculada Conceição, Santa Beatriz da Silva, pelo Papa Paulo VI. Hoje, na Praça de São Pedro, o Postulador da Causa, Fernando Millán, vai explicar o processo canónico que justifica esta atribuição pela Santa Sé, com relatos sobre a santidade de Nuno Álvares Pereira confirmados por teólogos e historiadores e um relatório de médicos convidados pelo Vaticano que atestam a sua "intercessão" na "cura miraculosa" de um olho da portuguesa Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar. Para segunda e terça-feira, estão previstas novas celebrações religiosas na basílica de São Paulo Fora de Muros, presididas por D. José Policarpo, e na Igreja de Santa Maria em Transpontina, por Fernando Millán.

Correio da Manhã: Estado ignorou Santo

O Cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, disse ontem em Roma que o Estado português "ligou pouco" à canonização do Beato Nuno de Santa Maria, sugerindo que, "se fosse noutro contexto, este acontecimento teria muito mais relevância social e política".
A cerimónia de canonização de cinco beatos, quatro italianos e um português, realiza-se hoje, às 10h00 (09h00 em Portugal), na Praça de São Pedro, no Vaticano, e é presidida pelo Papa Bento XVI.
Na conferência de imprensa no Pontifício Colégio Português, acompanhado pelo vice-postulador da causa, padre Francisco Rodrigues, e pelo reitor da Universidade Católica, Braga da Cruz, o patriarca lamentou a "pouca relevância" que o Estado tem dado ao acontecimento, "com excepção das tomadas de posição do senhor Presidente da República e do Parlamento" "Em público, o Estado convive mal com a realidade da Igreja e, por maioria de razão, com a santidade. Não é culpa de ninguém, mas é assim e não há volta a dar", afirmou D. José Policarpo.
Mas o patriarca diz que, apesar de tudo, até ficou "contente" por a reacção das entidades públicas ter sido discreta. "Ainda bem que assim foi, porque se evitou uma desmedida exaltação patriótica, que seria negativa para um caso que é sobretudo de exaltação de virtudes e de santidade", explicou o Cardeal-patriarca.
Braga da Cruz anunciou a realização, em Novembro, de um colóquio sobre o novo santo português, que contará com a participação da Universidade Católica e da Academia Portuguesa de História, e o padre Francisco Rodrigues disse que "vai ser criado um movimento de expansão da mensagem e da figura de S. Nuno, que as fará chegar às paróquias, movimentos e escolas de todo o País".

COMERCIANTES NÃO VENDEM RECORDAÇÕES DOS NOVOS SANTOS
Nem uma das mais de 50 casas de venda de artigos religiosos do Vaticano vende qualquer imagem, ou pagela sequer, do Santo Condestável. Mas também não têm de qualquer um dos quatro beatos italianos. Benedito Feliz, que tem nome do actual Papa e vende a menos de 50 metros da Basílica de São Pedro, diz que "os santos que são canonizados não rendem grande dinheiro e, na maioria dos casos, não justificam o investimento".
A excepção foi Madre Teresa de Calcutá, que apesar de só ter sido ainda beatificada vendeu imenso e continua a vender. "Esse é um caso de popularidade mundial, cujos artigos são comprados por italianos, portugueses, indianos ou alemães." O mesmo "vai passar-se um dia com João Paulo II, que continua a vender, ainda mais do que o actual Papa".

ROTOS DO BETAO POUCO VISÍVEL
O quadro oficial da canonização do Beato Nuno de Santa Maria, que foi colocado na fachada da catedral de São Pedro, ao lado dos quadros dos quatro beatos italianos, apresenta o monge a dar de comer aos pobres, com as ruínas do Convento do Carmo como pano de fundo.
Uma das críticas feitas ao quadro prende-se com o facto de o rosto ser pouco visível, pintado a cores claras, a que D. José Policarpo respondeu: "Às vezes a santidade não se vê."

PORMENORES

MIRACULADA EM ROMA
Guilhermina de Jesus, a sexagenária alvo da cura milagrosa que permitiu a canonização do Beato Nuno, vai integrar o cortejo do ofertório. A primeira das leituras vai ser proferida em português.

POLÍTICA E PÁTRIA
A Igreja lamenta que o processo de canonização tenha sido "muito atribulado e muitas vezes misturado com questões patrióticas e políticas".

TARJA EM FÁTIMA
O Santuário de Fátima colocou uma tarja de 6,20 m de altura e 1,65 m de largura junto da estátua do futuro santo, na colunata do recinto.

MAIS TURISMO NA SERTÃ
O Santo Condestável nasceu em Cernache do Bonjardim, na Sertã. A autarquia espera que o turismo aumente no concelho.

Secundino Cunha, enviado especial Roma