domingo, 30 de agosto de 2009

Boletim Informativo da SHIP

Boletim Informativo da SHIP n.º270/271, Ano XXV

sábado, 29 de agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Santo Condestável e os políticos contemporâneos pelo Tenente-Coronel Brandão Ferreira



O SANTO CONDESTÁVEL E OS POLÍTICOS CONTEMPORÂNEOS



“Aljubarrota, Exº Senhor não é um facto


isolado na História de Portugal e pode
repetir‐se sempre que haja um governo
consciente da sua missão e saiba pôr acima
dos interesses particulares o interesse
nacional e não faça da cobardia uma
virtude cívica”
General Gomes da Costa
(no discurso ao novo Ministro da Guerra,
em 15 de Agosto de 1925)



Como é do conhecimento público o Condestável (general) português D. Nuno Álvares Pereira – Beato Nuno de Santa Maria, desde 1918 – vai ser canonizado no próximo dia 26 de Abril. Tal evento devia dar lugar a comemorações a nível nacional.
Apesar da cerimónia que vai ter lugar ser eminentemente religiosa, não faz sentido algum que o júbilo e o cerimonial fiquem restritos ao âmbito dos cidadãos católicos.
Não deixa pois, ser curioso notar que a grande maioria dos políticos e todos os órgãos do Estado, sobre o assunto, aos costumes têm dito nada.
Não há até à data qualquer indício de que o governo, por exemplo, tenha qualquer interesse nesta questão.
É lamentável que assim seja, embora fosse expectável face às sucessivas desilusões com que a classe politica tem brindado a população de há largos anos a esta parte no campo da Segurança, da Justiça e do Bem Estar que são a razão de ser das eleições e daquilo que se lhes paga.
Há três ordens de razões – no nosso entendimento – que explicam aquela actuação, este aparente desprezo pela figura ímpar de Nuno Álvares.
A primeira razão prende‐se com o fundo político‐doutrinário das forças partidárias com assento na AR.
A figura de D. Nuno arde‐lhes nas mãos. Por um lado, não consta que a figura do Condestável fosse adepto de questões fracturantes, não era pacifista militante nem adepto de relativismos morais. Depois era um líder – que são os que fazem a História – ao contrário do que defende uma determinada historiografia e conceito político que tenta reduzir os acontecimentos a movimentos de massas e lutas de classes; outros não sabem sequer ao que andam, são falhos de doutrina, parecem mantas de retalhos fazem demagogia barata, pescam em águas turvas. O então Condestável do Reino representa a antítese de tudo isto …
Quanto ao partido no governo tem os seus fundamentos nas tradições jacobinas e anti religiosas da I República a que se juntou, mais tarde, uns laivos de marxismo que se põem ou tiram da gaveta conforme a égide do momento. Têm, por outro lado, um azar especial a fardas, ordem e autoridade.
Como podem apreciar a figura do Santo Condestável, excelsa glória das nossas armas?
Além disso exaltar tão virtuosa criatura – cuja filha, note‐se, deu origem à Casa de Bragança ‐ em pleno arranque das comemorações dos 100 anos da República, não lhes parecerá certamente, dar jeito nenhum...
A segunda ordem de razões tem a ver com o facto de que desde meados dos anos 70 do século passado se ter menorizado (to say the least) toda a nossa epopeia ultramarina – a frase “meter uma lança em África vem, até, de D. Nuno ‐ caluniando alguns dos nossos grandes estadistas, militares, marinheiros, missionários, etc.; promovido e dando lugares importantes e palco, a desertores, oficiais do quadro permanente que esqueceram os seus deveres militares, etc; cidadãos que andaram a pôr bombas, assaltar bancos e a sabotar o esforço de guerra da Nação, passaram a pessoas respeitáveis; rapaziada que em sociedades regidas por gente séria e com princípios, seriam apodados de traidores, passaram a ser venerandas e obrigadas, etc.
Ora ir comemorar o grande Nuno Álvares, exemplo de patriotismo, seriedade e valentia, sem mácula, iria provocar um contraste demasiado gritante. Percebe‐se mas, obviamente, não se pode aceitar.
Finalmente, a outra razão pela qual não se pretende, aparentemente, a nível do Estado dar honras nacionais a tão extraordinário antepassado, tem a ver com a União Europeia e o projecto federalista em marcha. Para se conseguir o objectivo da federação europeia – resta ainda saber o passo seguinte – é preciso acabar com as Pátrias e qualquer resquício de nacionalismo. Isto é, é necessário acabar com os Estados‐Nação, do qual Portugal representa o figurino mais perfeito. O que interessa é esbater os conflitos e tensões de antanho para tudo amalgamar. O que vale, hoje em dia, não é a História de cada país ‐ que representa o passado –, mas sim a História da Europa – que se deseja venha a haver.
Ora lembrar D. Nuno, não cai nada bem neste desiderato. E a maioria dos políticos – que aliás se dizem muito democratas, mas nunca deixam o povo decidir nada do que é efectivamente importante – sabe isso muito bem.
A caridade cristã concede e encoraja, porém, a que as ovelhas (políticos) tresmalhados voltem ao redil. Serão bem vindos e não lhes ficará mal se o fizerem de boa mente.
D. Nuno sobreviverá a tudo isto. E se já era uma figura incontornável na História de Portugal, a partir de 26/4 será personagem viva em toda a Cristandade.
João José Brandão Ferreira
TCor Pilav (Ref)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Túmulo do Convento do Carmo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Pintura de Gabriela Marques da Costa: O Condestável – 1360 a 2009

Monge da Armadura
(100x60cm)

Pelo Reino, pela Pátria, Por Deus
(100x60cm)
O Santo Destemido
(100x60cm)
Táctica do Quadrado
(80x40cm)

A lição de Aljubarrota: apontamento teatral de António Manuel Couto Viana


A LIÇÃO DE ALJUBARROTA

Apontamento teatral de António Manuel Couto Viana.
Pequeno apontamento teatral sobre o tema da batalha
de Aljubarrota e da sua principal figura: Nun`Álvares.



Noite. “Chamas da Mocidade”. Fila cerrada de filiados, empunhando bandeiras da Mocidade Portuguesa. Uma voz:
- Era uma vez um povo que nascera
Dum milagre de Deus numa batalha –
E crescera, crescera…
Como todo o que reza e que trabalha.
Esta pequena e juvenil nação
Talhara, com a espada e com o arado,
O direito ao seu fado
E o direito ao seu pão…
E quando à noite, calma, adormecia,
Por ter lidado
Todo o dia,
O mar,
Na voz duma sereia,
vinha cantar-lhe a doce melopeia
dos mundos e oceanos por achar.
E feliz vivia assim.
Mas a cobiça da terra
Premeditou o seu fim
- Por isso lhe moveu guerra.
(Invejas, ódios, rancores
Só atingem os maiores).
- Meu povo destinado
A dar ao mundo exemplos de nobreza;
Meu povo abençoado;
Oh gloriosa terra portuguesa:
Vem defender o teu destino dado
Por Deus,
Quando gravou nos céus,
Perante os piedosos olhos teus,
As chagas do Seu Filho humanizado!

(A fila divide-se pelo meio e afasta-se, um para a direita, outra para a esquerda, deixando ver uma pequena fogueira e uma tenda de campanha do século XII. Junto da fogueira, ajoelhado, de perfil para o público, Nun`Álvares. Outra voz:)

- Numa noite de Agosto,
À luz duma fogueira crepitante,
Que o seu perfil estático modela,
Nuno, quase infante,
Vela.
Que estranha brisa agita os seus cabelos?
E quem deu tanto brilho no seu olhar?
(As nuvens lembram naves e castelos
Batidos pelo luar).
Que murmuram seus lábios? Que oração?
As suas mãos descansam sobre o peito,
No doce jeito
De escutar o bater do coração.

D. NUNO

Senhor!
Teu servo sou, bem pecador,
E sei que não mereço
Seja o que for,
Um divino sinal
Do teu apreço.
Mas, senhor, eu nasci em Portugal!
E é só por ele que rezo.
Tu, que lhe deste a vida
Na espada ungida
Do primeiro Rei
Que lhe talhou a sorte,
Não podes dar, agora, a fria morte
À sua grei.
Senhor!
Teu servo sou, bem pecador,
Mas entrego-te a minha vida inteira.
Dela farei, Senhor, uma bandeira
Pelo amor da Pátria e Teu amor.
Qual outro Galaaz,
Serei puro e audaz,
Protegerei os fracos, as crianças,
E só quebrarei lanças
Quando a causa for justa.
E mais digo, Senhor, que não me custa
Esta promessa,
Pois poderei cumpri-la
Sem que nada mo impeça,
Com toda a força do meu coração
E a alma tranquila,
Se me amparar tua divina mão.
Senhor!
Vai travar-se a batalha decisiva:
Quem sabe se amanhã será cativa
A bandeira que, ao vento, além, se agita?
Senhor!
- Tua bondade é infinita –
Se outra bandeira,
Odiada por ser uma estrangeira,
Manchar meu Portugal de lés a lés,
(Senhor!
Creio na Tua clemência…)
Se o tributo da nossa independência
For o meu sangue: aqui me tens aos pés!

(Cala-se D. Nuno. Curva docemente a cabeça, pronto a todo o sacrifício por amor de Portugal. De novo a segunda voz:)

E Nuno reza, reza… De repente,
Como uma estrema refulgente
Que tombasse do Céu,
Um Anjo lhe apareceu.

(Surge um Anjo, trazendo uma cruz que se aproxima, lentamente de D. Nuno. Este olha-o, num arrebatamento. Luz intensa. A segunda voz continua, sem interrupção:)

Ao seu redor tudo se iluminou
Deus atendera a prece comovida
E em seguida,
Suavemente em seguida,
Pela boca do Anjo assim falou.

Anjo

Vai!
Tua oração
Abrasou meu coração
De Pai.
Sim, eu aceito o teu amor,
Tua vida trilhada em meu louvor,
Teus joelhos no pó e as mãos erguidas,
Exemplo nobre de milhões de vidas,
De outros cometimentos,
De sacrifícios e de sofrimentos;
Por ti eu salvarei a Portugal,
Por essa fé dum outro Galaaz
- De novo, este é o sinal:
Com ele, vencerás!

(O Anjo ergue a cruz bem alto. As duas filas de filiados, vindas da direita e da esquerda de novo ocupam completamente a cena, escondendo D. Nuno e o Anjo. Ao longe, ouvem-se toques de clarins e rufar de tambores. A segunda voz:)

E chegou o momento, finalmente,
De novo extenso campo, frente a frente,
Se avistaram as hostes contendoras.
Agitam-se guiões ao sol da tarde
E no peito de Nuno vibra e arde
A fé nessas palavras salvadoras.
É tão restrita a turba lusitana
Ante a maré que cresce, flui, alaga
Da gente castelhana
Na força rude de quem tudo esmaga!
Mas quem pode lutar contra o direito,
Com Deus por Capitão?
Todo o mais forte, valoroso feito,
Resulta nulo, vão.
- E Portugal, por si, tinha o direito
E Deus por Capitão!
Já o inimigo leva de vencida,
Já foge o invasor…
E a espada de Nuno, erguida,
Dá a exacta medida
Do seu valor.
A estrangeira bandeira
Já se rende a seus pés
- que aleluia percorre a terra inteira
De lés a lés!
Trombeta castelhana:
Teu som, que o Guadiana
Ouvira temeroso.
Aqui, para sempre cessou –
Outro valor se elevou:
Outro valor mais alto e poderoso!

(De novo dividida em duas, a fila dos filiados afasta-se, deixando ver, de pés, a figura do Condestável. Atrás deste, um mastro hasteando a bandeira de Aljubarrota)

D. NUNO

Graças Te dou, Senhor, pela vitória
Que nos deste;
Há-de permanecer na nossa História
A salvadora dádiva celeste.
Pela promessa cumprida,
Portugal Te consagra, d`ora avante, a vida.
E a dilatar a Tua fé irá, por mar,
Em procura de mundos por achar.
Nas brancas velas
Das suas caravelas
Tua bendita cruz há-de bordar.
E por amor de Portugal e Teu amor,
O mundo se abrirá como uma flor.
Depois subirão ao Céu
Os zimbórios e torres das Igrejas.
E na calma do lar ou nas pelejas
No Maduré ou em Fez,
O português
Sempre terá na boca o nome teu.
Eu,
Pra melhor Te servir, professarei:
Dei a espada ao meu Rei,
A Ti, a minha vida, dia a dia…
Aceita, pois, Senhor, o coração
Deste servo que pede o Teu perdão:
Nuno de Santa Maria.
À luz do teu sinal,
Outros continuarão
A lutar e a vencer por Portugal.
E em sua viril beleza
- Novos Alas gentis dos Namorados –
Eternamente a Mocidade Portuguesa
Há-de lembrar os séculos passados
E aprender a lição
Deste espantoso, milagroso feito:
Só vence quem, por si, tem o direito
E Deus por Capitão:

(As duas filas de filiados de novo se vêm unir na frente de D. Nuno. E repetem em coro:)

Só vence quem, por si, tem o direito
E Deus por Capitão!

(Com esta certeza, aqui termina o pequeno apontamento teatral).

Lisboa, 23 e 24 de Julho de 1948.
António Manuel Couto Viana