domingo, 26 de abril de 2009

O Condestável no Passado, no Presente e no Futuro Zuzarte de Mendonça

O CONDESTÁVEL
NO PASSADO, NO PRESENTE E NO FUTURO

«(...) É a figura excelsa, a glória máxima desta Raça predestinada para os grandes cometimentos e para as surpreendentes audácias.
(...) Só as nações incultas desconhecem os seus homens ilustres.
O nosso povo, desgraçadamente, é um povo analfabeto. E, para o castigo ser mais rude, propagandas dissolventes, de procedências várias e com diversos fins, têm-no batido com insistência, durante largos anos, consecutivamente. Houve quem cerrasse os olhos a essa tarefa anti-portuguesa e anti-social. Houve quem aparentasse não se aperceber dos seus perigos, sabendo muito bem a sua gravidade. E foram-se esquecendo as nobres figuras, os edificantes exemplos e as lições prodigiosas do Passado, que é sempre uma escola, quer para os indivíduos, quer para as colectividades. Quem é hoje, fora do círculo apertado dos estudiosos, que conhece, e devidamente compreende, a personalidade eminente de Nun`Álvares? Quem sabe as suas glórias, os seus heroísmos, os seus rasgos, as páginas edificantes e comoventes da sua vida modelar, toda ela consagrada, sem um desfalecimento, sem uma hesitação, sem uma incoerência, ao amor de Deus e ao serviço da Terra-Mãe?
Pois nós queremos contribuir, quanto em nossas forças caiba, para divulgar essa vida e essa obra. Cumprimos apenas um dever, que nos é gratíssimo, se bem que, e não o ignoramos, a tarefa seja árdua, pelas responsabilidades que nos impõe.
Mas não importa. A boa vontade pode muito, e como escrevemos para o grande público, e não estamos fazendo história, mas recordando-a, queremos crer que não será perdido este esforço.
Vamos, portanto, dizer, quem foi o Santo Condestável — enumerar os seus feitos, segui-lo, desde a infância, quando se inspirava em Galaaz, até à morte do justo, na cela do convento de Nossa Senhora do Carmo, que ele edificara com a sua vontade de bronze. Mais ainda: vamos mostrar, com eloquência dos factos, contados em linguagem simples, que todos entendam, quanto lhe devemos em vida, quanto lhe estamos devendo depois de morto. Como a sua influência pode ser salutar, e até decisiva, nos destinos de Portugal, se soubermos bem meditar e compreender a sua vida. Esta secção será, ao mesmo tempo, uma evocação e um estímulo. Lembrar-nos-á o Passado e apontar-nos-á um Futuro que o não desmereça. Fará história, que o povo perceba. — Será uma cartilha de civismo, para que as multidões se eduquem no amor à terra em que nasceram. Reproduzirá documentos, dará trechos de crónica, dirá quem se tem ocupado de Nun`Álvares, como os nossos escritores o têm encarado, quais os nossos poetas que o têm cantado na sua lira...
A secção dividir-se-á em três grandes partes: no passado — no presente — no futuro. E como estamos firmemente convencidos de que será ilusório todo o trabalho ou todo o sacrifício, para salvar Portugal, que não assente os seus alicerces nas virtudes, cívicas e morais, do Herói excelso, empenhar-nos-emos sobretudo em abrir de novo, ao culto do Condestável e do Santo, a boa alma popular, tão desviada dos caminhos que percorreu sempre, com fortuna e honra, durante um tão largo período de tempo. Porque, se chorar os Mortos queridos, é já indício de boas qualidades, e revela amizade ou gratidão, imitar os seus exemplos, adoptar a mesma norma de vida, honrar e pondo em prática os seus ensinamentos, essa é a melhor e a mais proveitosa homenagem, e a mais inteligente. Os Heróis e os Santos não querem outra.
Nós vivemos numa época que exige, como nenhuma outra, talvez, o conhecimento dos grandes homens dos tempos idos. Para os chorar? Para os admirar apenas? Principalmente, para os tomarmos como modelos. Para continuarmos a sua obra...
E Portugal salvar-se-á, de quantas crises o assoberbem, se não esquecer Nun`Álvares, se ouvir vozes e a lição do Santo Condestável...

Zuzarte de Mendonça
In «Cruzada Nacional Nun`Álvares», Ano I, Novembro de 1922, pág. 17.

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