NUNO ÁLVARES
«A Idade Média portuguesa está cheia de esplêndidas figuras representativas. Desde os grandes Reis da Fundação, da Reconquista, do Povoamento, do Descobrimento: Afonso I, com sua espada criadora do Reino Novo; Sancho I, que o engrandece e restaura: Afonso II, que lhe dá o inapreciável benefício de uma autoridade firme; o desventurado Capelo, conquistador de tantas terras no sul; Afonso III, que marca à Nação o definitivo contorno; o Lavrador da Terra e do Espírito, Dom Dinis; Afonso IV, cavaleiro intrépido e jovial; Fernando, perdido de amores fatais mais verdadeiro iniciador do nosso poderio marítimo; João I, chefe exemplar de um Povo desperto e de uma Família extraordinária — desde os grandes Reis, aos heróis da Sabedoria ou da Guerra. Um nome apenas entre os primeiros: esse maravilhoso Santo António de Lisboa, flor franciscana da superior cultura da sua época, Doutor e pregador de fama, aceso em sagradas cóleras contra os albigenses heréticos, glosador eloquentíssimo dos Evangelhos, generoso dispensador de milagres. Entre os segundos, um nome apenas: o de Nuno Álvares, que vimos coberto de loiros no bravo tumulto das batalhas e agora encontramos, neste primeiro quartel do Século XV, a esplender na pura atmosfera do claustro.
É o mais valoroso cavaleiro do tempo. Alcança triunfos inverosímeis: Atoleiros, Aljubarrota, Valverde, quantos! Revela sempre um sentido prático, infalível da táctica militar — quando escolhe e fortifica a posição que os nossos ocupam no dia de Aljubarrota; quando adopta o famoso dispositivo do quadrado; quando dirige e comanda os mais denodados ataques, indiferente ao risco e ao número de inimigos, primeiro de todos na arrancada e na temeridade. De súbito, porém, solicitado por enigmático e longínquo apelo, detém-se a murmurar orações, ausenta-se do campo da luta, escuta, surdo ao estrépito dos choques de armas e de exércitos, as vozes ocultas que lhe falam de além-mundo. Compreende-lhes a estranha linguagem, dialoga com elas, entra, extasiado, no seu convívio sobrenatural.
Ganha as maiores honras e a maior fortuna. Condestável desde 1385; Conde de Ourém a seguir a Aljubarrota; Conde de Barcelos após Valverde — a gratidão régia enche-o de títulos e domínios; pertence-lhe a terça parte do território. Dom João I escolhe sua filha Beatriz para mulher do Infante Dom Afonso; o novo casal, dotado com avultadíssimos bens, será o tronco da poderosa Casa de Bragança: dela sairá no futuro larga série de Monarcas portugueses.»
É o mais valoroso cavaleiro do tempo. Alcança triunfos inverosímeis: Atoleiros, Aljubarrota, Valverde, quantos! Revela sempre um sentido prático, infalível da táctica militar — quando escolhe e fortifica a posição que os nossos ocupam no dia de Aljubarrota; quando adopta o famoso dispositivo do quadrado; quando dirige e comanda os mais denodados ataques, indiferente ao risco e ao número de inimigos, primeiro de todos na arrancada e na temeridade. De súbito, porém, solicitado por enigmático e longínquo apelo, detém-se a murmurar orações, ausenta-se do campo da luta, escuta, surdo ao estrépito dos choques de armas e de exércitos, as vozes ocultas que lhe falam de além-mundo. Compreende-lhes a estranha linguagem, dialoga com elas, entra, extasiado, no seu convívio sobrenatural.
Ganha as maiores honras e a maior fortuna. Condestável desde 1385; Conde de Ourém a seguir a Aljubarrota; Conde de Barcelos após Valverde — a gratidão régia enche-o de títulos e domínios; pertence-lhe a terça parte do território. Dom João I escolhe sua filha Beatriz para mulher do Infante Dom Afonso; o novo casal, dotado com avultadíssimos bens, será o tronco da poderosa Casa de Bragança: dela sairá no futuro larga série de Monarcas portugueses.»
João Ameal
In «História de Portugal», Livraria Tavares Martins, 6.ª edição, Porto, 1968, págs. 185/186/187.
In «História de Portugal», Livraria Tavares Martins, 6.ª edição, Porto, 1968, págs. 185/186/187.
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