domingo, 26 de abril de 2009

Diário de Notícias: Papa irá passar no meio de milhares de portugueses



D. Nuno Álvares Pereira será canonizado hoje na Praça de São Pedro, facto que levou milhares de portugueses até Roma. Patriarca diz que reacção do Estado é discreta.
A Embaixada portuguesa no Vaticano espera hoje milhares de peregrinos portugueses na Praça de São Pedro para assistir à canonização de D. Nuno Álvares Pereira. No entanto, apenas Guilhermina de Jesus, a portuguesa que foi miraculada pelo beato Nuno, deverá encontrar-se com o Papa. A mulher de Ourém e o presidente da Fundação da Batalha de Aljubarrota subirão ao altar para levar as relíquias do Beato Nuno.
Ao DN, o embaixador de Portugal, João Rocha Páris, afirmou que não foram pedidas audiências com Bento XVI, nem antes, nem depois, não só por não fazer parte do cerimonial da canonização mas também porque o Papa só recebe em audiências privadas os chefes de Estado. No entanto, deverá percorrer a Praça de São Pedro no seu "Papa-mobil" para se aproximar dos milhares de peregrinos portugueses.
Fontes próximas do Vaticano, confirmaram ao DN que, já em situações anteriores, alguns dos convidados especiais encontraram e cumprimentaram o Papa, à entrada da Basílica de S. Pedro, quando este se retira. Não surpreende os ambientes próximos do Vaticano, que tal pudesse repetir-se hoje.
A manhã terá início às oito horas com a chegada dos fiéis e dos convidados especiais à Praça de S. Pedro, onde nos últimos dois dias foram montadas as tribunas e o altar mor para a canonização dos cinco santos. Um ecrã gigante transmitirá o evento para os milhares de peregrinos provenientes de vários países. Serão cem os membros do coro da Capela Sistina e 160 os padres para distribuir a comunhão.
A cerimónia começará às dez horas, e será celebrada por Bento XVI com mais 50 co-celebrantes. Entre eles estão oito portugueses (ver caixa). No altar, na tribuna à direita, estarão os convidados especiais, entre estes, os descendentes directos de D. Nuno, assim como personalidades de destaque, civis, religiosas e membros de ordens, dos cinco novos santos.
D. José Policarpo classificou como "discreta" a reacção do Estado português à canonização, considerando que o poder político "convive mal com a Igreja e com a santidade". Na conferência de imprensa realizada no Pontifício Colégio Português, em Roma, o cardeal lamentou a reduzida importância dada pelos políticos ao evento, se comparado com outros feitos culturais e desportivos alcançados por portugueses. "Noutros contextos o relevo seria maior", disse.
Na sua opinião, "depois da separação da Igreja do Estado e da declaração de laicidade do Estado, com tudo o que isso acorrentou de compreensão da ideologia que conduz a vida pública, temos de reconhecer que, pelo menos em público, o nosso Estado convive mal com a Igreja e com a santidade, a expressão máxima da vida cristã", afirmou D. José Policarpo.
"Estamos numa vigília de canonização. Um acto da ordem da fé e não diante da exaltação patriótica de um grande português", disse. "Devemos pôr de parte, agora, a exaltação patriótica que compete aos historiadores. Pela primeira vez penso que esta causa,na última fase, foi profundamente centrada na dimensão teológica e espiritual da sua santidade".
Manuela Paixão
In Diário de Notícias, 26.04.2009

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