domingo, 26 de abril de 2009

Correio da Manhã: “Havia sete milagres, mas escolheram este”

Agastado com "muitas coisas que se têm escrito e dito" acerca do milagre que permitiu a canonização do Beato Nuno de Santa Maria (a cura da córnea de um olho de Guilhermina de Jesus, que se feriu com óleo a ferver quando fritava peixe), o padre Francisco Rodrigues, vice-postulador da causa, assegura que, "aquando da reabertura do processo, em 2004, nós tínhamos sete situações de milagre, mas os teólogos e os médicos do Vaticano escolheram este por ser o mais evidente e o mais fácil de provar".
"As pessoas falam muito, mas a intervenção de Deus, de forma inexplicável, é mais frequente do que se pensa", disse o sacerdote carmelita, sublinhando que "as outras curas especiais dizem respeito a casos de cancro e diabetes, o que, segundo os médicos, apresentam maior dificuldade ao nível da prova da intervenção de Deus através de um santo".
"Estamos a falar de uma ferida que, através de medicamentação muito agressiva, demoraria pelo menos um ano a sarar. Ora, o acidente deu-se a 29 de Setembro e a cura teve lugar no decorrer de uma novena ao Beato Nuno, a 7 de Dezembro. Dois meses e pouco depois e sem qualquer medicação", explicou o vice-postulador.
De resto, o cronista carmelita José Pereira Sant’Anna tem mais de 60 páginas escritas de milagres realizados pelo Beato Nuno, com curas de toda a espécie. As sete que foram consideradas para esta causa referiam-se todas, segundo o padre Francisco Rodrigues, a pessoas residentes em Portugal.
Recusando qualquer "estatuto de menoridade" ao milagre escolhido, o sacerdote carmelita afirma que, "muito mais importante do que qualquer milagre, foi a vida de virtudes de D. Nuno, essa sim, digna de santidade e, como tal, proporcionadora de milagres".
A miraculada, Guilhermina de Jesus, natural de Vila Franca de Xira e residente em Ourém, vai estar presente, domingo, na cerimónia de Canonização, e deve encontrar-se com o Papa Bento XVI.

200 ESCUTEIROS NA CERIMÓNIA
Para além de patrono da GNR e da arma de Infantaria, o Beato Nono (a partir de domingo S. Nuno de Santa Maria) é também o patrono dos escuteiros portugueses. Por isso, o Corpo Nacional de Escutas promoveu um voo charter, com 202 escuteiros, que parte amanhã e regressa domingo. Vão à vigília de amanhã e à cerimónia de domingo.

MUSEU DO CONDESTÁVEL EM JUNHO
Em Ourém, perto do castelo e do café-bar do senhor Raul Júlio (na foto), um dos locais que preservam a memória de Nuno Alvares Pereira, terceiro conde da terra, vai abrir em Junho um museu dedicado ao Santo Condestável. É uma parceria entre a Fundação Batalha de Aljubarrota e a Fundação Histórico-Cultural Oureana. A ideia é que o espaço complemente o Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota.

CANONIZAÇÃO VIVIDA EM VILAS E CIDADES
Missas, vigílias e ecrãs gigantes para transmitir a cerimónia são algumas das iniciativas previstas para o próximo domingo, dia da canonização, um pouco por todo o País.
Em todas as instituições do Carmo, as eucaristias de amanhã e domingo assinalam a elevação do Beato Nuno a santo.
Em Lisboa, já amanhã, na Igreja do Santo Condestável, há uma vigília, à mesma hora da que acontece em Roma, na Igreja de Santo António dos Portugueses, presidida por D. José Policarpo.
Mas amanhã e domingo os acontecimentos mais marcantes vão decorrer em Cernache do Bonjardim, terra natal de D. Nuno, no Crato, de cujo pai foi prior, em Ourém, condado do Condestável, e em São Jorge de Porto de Mós, local da Batalha de Aljubarrota.
Em Cernache, todas as casas e lojas exibirão imagens de S. Nuno; no Crato, a canonização vai ser transmitida em ecrã gigante no interior do Mosteiro de Santa Maria, em Flor da Rosa; o mesmo acontecerá na Fundação Batalha de Aljubarrota; em Ourém, haverá uma missa, às 11h00, na Colegiada, em pleno centro histórico.
De resto, haverá missas em honra de S. Nuno um pouco por todo o País, nomeadamente nas paróquias onde houver escuteiros. Até na ilha do Pico, nos Açores, a Ouvidoria local assinala a canonização de D. Nuno, na Igreja da Calendária.

PREPARATIVOS COMEÇAM HOJE
As cerimónias de canonização não são propriamente uma novidade para a máquina do Vaticano. No entanto, exigem uma preparação específica, que começa esta sexta-feira. Em suma, e neste caso, o essencial do trabalho de cerca de três dezenas de pessoas prende-se com a divisão em cinco partes iguais da Praça de São Pedro, com três mil lugares para cada canonizando. Também a plataforma mais elevada, ocupada ao centro pelo altar, será reorganizada, com os cardeais à direita do Papa, 25 concelebrantes de cada lado e os convidados especiais à esquerda do Sumo Pontífice.

"O NOSSO PAÍS PRECISA MUITO DE SANTOS" (D. Jorge Ortiga, Presidente da CEP)
Correio da Manhã – Até que ponto, em sua opinião, a canonização do Beato Nuno é importante?
D. Jorge Ortiga – É para nós uma graça que um português atinja a santidade. Para além disso, o nosso país precisa muito de santos.
– Porquê?
– Porque eles são exemplos de virtudes, que ajudam à nossa salvação. Mas, para além de precisarmos de santos, nós precisamos sobretudo de conhecer melhor os santos e a sua vida.
– Quem foi, para si, D. Nuno Álvares Pereira?
– Foi um herói de Cristo. Não se limitou a ser um exímio militar, um estratega de eleição, mas foi também um grande coração, amigo dos pobres e, sobretudo, foi exemplar no desprendimento das coisas da vida. Quando tinha todo o poder e todas as honrarias, fez-se monge de última fila e dedicou-se à oração. É um notável exemplo, daqueles que atravessam a História.
– Vai estar domingo em Roma?
– Estarei e com todo o gosto.

PORMENORES
DÉCIMO SANTO
O Beato Nuno vai tornar-se domingo no décimo santo português nascido após a nacionalidade. Os outros são: S. Teotónio, Santo António, S. Gualter, Santa Isabel, S. João de Deus, S. Frei Gil, S. Gonçalo Garcia, S. João de Brito e Santa Beatriz.

MILITARES NA CERIMÓNIA
A instituição militar vai estar representada ao mais alto nível através do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, general Valença Pinto. O Governo será representado pelo ministro Luís Amado.

570 ANOS À ESPERA
A canonização de D. Nuno é o fim de uma espera de quase seis séculos. A primeira tentativa de colocar o Condestável nos altares foi feita por D. Duarte, em 1434.

TRASLADADO OITO VEZES
O túmulo do Condestável está na Igreja de que é orago, em Lisboa. Até lá chegar, foi trasladado oito vezes. Esteve no Carmo e em São Vicente de Fora.

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