sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema condestabriano de Pedro Calderón de la Barca

Ao Sepulcro do Grande Condestável


Funestas pompas e cinzas frias
Sempre convidam a carpir enganos
Das horas de que se fazem os dias,
Dos dias de que se fazem os anos.
Só desta vez as mudas vozes minhas
Te chamam com felizes desenganos,
Te avisam com acertos superiores,
Ó viajante, que invejes e não chores.
Nuno Álvares Pereira, de quem foram
Tantos feitos que ao tempo atraiçoaram,
De quem tantas conquistas se disseram,
De quem tantas façanhas se contaram,
De quem tantos Monarcas descenderam,
E com quem tantas casas se engrandeceram,
Aqui jaz; e tanto é esta pedra leve,
Que admiração e não pranto se lhe deve.
Pois de si mesmo foi o mesmo vitorioso,
Que é a maior vitória em que se incorre,
Deste Templo, Patrono e Religioso,
A si mesmo, em si mesmo se acorre.
Ó se ele é feliz! Só é veramente ditoso
Aquele que duas vezes vive e morre:
Na fortuna temporal, tem uma
E logo outro na imortal fortuna.

Pedro Calderón de la Barca,
Cavaleiro da Ordem de Santiago.
In Rodrigo Mendes Silva Lusitano, Vida e Feitos Heróicos do
Grande Condestável e Suas Descendências,
Esfera do Caos Editores, 2010, p. 401.

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