domingo, 20 de junho de 2010

A Batalha de Aljubarrota por Diogo Pacheco de Amorim

A Batalha de Aljubarrota


1 - O Campo de Aljubarrota
O sol queima os campos de Aljubarrota. Silêncio abrasador, de princípio de um mundo onde nada respira, nada se ouve e nada mexe. Apenas a terra torturada parece contorcer-se lentamente, muito lentamente, na procura vã, no fundo de si própria, de uma gota de água...

2 – Chegada das Tropas Portuguesas
Reverberações trémulas de cores sem destino e sem sentido; do norte, do sul, do nascente e do poente, aproximam-se lentamente e precisam-se naquele espaço e naquele tempo onde todo um Destino será jogado. Cavalos ajaezados, cavaleiros de aço chispando ao sol os símbolos e as cores das suas raças, peões da cor da terra queimada formigando pelas veredas; o silêncio quebra-se e a paisagem ganha vida:
As tropas assentam arraiais.

3 – Chegada do Mestre de Aviz e do Condestável
Chega o Mestre de Aviz e o seu Condestável

4 – A Ala dos Namorados
Ganha forma a nobreza ruidosa, imberbe e colorida da Ala dos Namorados. As cores das suas linhagens e das suas damas ardendo nessa tarde de Agosto, desenham um arco-íris no campo de Aljubarrota.

5 - A Espera e a “Desespera” dos Portugueses
O ânimo é grande e a vontade de combater ali, já, naquela hora é manifesta... mas contra quem? As hostes castelhanas tardam e o sol, inexoravelmente, faz o seu caminho de sempre e vai caindo para os lados do mar, lá longe. Virão? Não virão? E se não vêm? Pairam no ar a dúvida, e a indecisão e a pergunta: Que fazer agora?

6 – Chegada dos Castelhanos
Mas eis que, ao longe, um sussurro se começa a fazer ouvir... e o sussurro ganha corpo, como uma tempestade que se aproxima em dia de Verão. E vai ser grande e forte, a tempestade: o número de cavaleiros é infindo, incontável a peonagem. Nos pendões, as armas de todos os Grandes de Espanha e as de quase todos os Grandes de Portugal, cada um deles com a sua hoste de cavaleiros e de peões...

7 – Soldados Portugueses e Ala dos Namorados
Mas na sua inconsciência, ou na sua coragem, ou na sua imensa fé, ou numa sábia mistura das três, a pequena hoste do Mestre e do Condestável mantém a serenidade e a vontade de combater e de vencer...

8 – Silêncio e Oração de Dom Nuno
No último momento de silêncio que sempre antecede a tempestade, montado no seu cavalo, armado, elmo posto, viseira caída, Nuno Álvares recolhe-se em si e, como sempre, reza...


9 – A Batalha
Santiago?
S. Jorge?
Entre um Tempo e outro Tempo, o Destino suspenso... Numa eternidade dolorosa e provisória.
Chocam os dois exércitos.
Giravam espadas em silêncio no cair da tarde...
Mas de repente o Tempo voltou a correr,
João de Castela bateu em retirada
e os portugueses ficaram senhores do campo...
Era a vitória...

10 - Requiem
Vitória amarga. Entre papoilas e sangue, pendões manchados e armaduras rasgadas, há milhares que dormem, no chão da batalha, o sono sem sonhos dos corpos abandonados. Caem, sobre eles, a noite, o silêncio e a paz definitiva e derradeira do dever cumprido. Deveres diversos e lealdades cruzadas, que se chocaram e decidiram naquele campo de Agosto. E na diversidade dos corpos e das armas desenhadas nos escudos amolgados, retorcidos, desfeitos, a unidade na morte. A morte em nome da palavra dada ou em nome da missão a cumprir. Sim, vitória amarga, aquela...

11 – Canto da Vitória
... Mas vitória! Vitória decisiva e necessária, marco miliário de um Destino sem sombra. Vitória de um povo que lentamente se erguia no horizonte da História para iluminar os séculos imediatos a vir.
Vitória marcada nos rostos vincados pelo esforço, nos pendões erguidos à lua, nos elmos sobraçados. E, principalmente, vitória marcada no brado de alegria que correu o campo: "Arraial, arraial, por Dom João, Rei de Portugal!"

Abençoado
Seja este dia
Seja este arraial
Por D. João
Por Santa Maria
E por Portugal


Graças Senhor
Por todo este dia
Por este arraial
E por D. Nuno
De Santa Maria
E de Portugal

Texto de Diogo Pacheco de Amorim
Música de José Campos e Sousa

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